A Força da Palavra

Crônica de nossa história

Para comemorar seus 83 anos de existência, o POPULAR lança um e-book com 48 crônicas, mostrando que esse gênero e a literatura em geral integram a essência do jornal

Enxergar o mundo por lentes inesperadas, surpreendentes. Usar o humor e a ironia para repassar uma leitura da realidade mesmo que pesada, ativando a imaginação e nos convidando a refletir. Buscar na literatura uma inspiração não só para a linguagem, mas para uma tradução menos óbvia, mais interessante do que quer tratar. Dar-se a liberdade até de enveredar pela criação, elaborando metáforas e paralelos com o tangível, numa associação de sentimentos pessoais com episódios da sociedade. Escrever crônicas, enfim.

Gênero híbrido e clássico não só no jornalismo tradicional, a crônica atravessou as diversas fases da imprensa e se adaptou a todas as plataformas, fazendo-se presente nas mais diversas concepções, explorando sua liberdade normativa para ousar e fazer essa ponte entre o comentário da realidade, o inusitado, o trivial e uma reflexão mais profunda, uma crítica criativa, um registro de uma história pessoal ou coletiva, de um sentimento individual ou compartilhado numa sociedade em determinado tempo e espaço.


Tudo isso poderá ser lido no e-book com o qual o POPULAR presenteia seus leitores para comemorar seus 83 anos de existência, comemorados neste 3 de abril. O livro, que poderá ser acessado gratuitamente e será lançado ainda neste mês de abril, traz 48 textos de 16 cronistas do jornal, em retratos variados quanto a temas e estilos sobre os tempos atuais, sobre assuntos cotidianos, sobre os desafios da existência humana, sobre as relações que são estabelecidas e geram ações e reações que alteram o fluxo da vida.


Na lista dos cronistas incluídos no livro, estão as autoras Maria José Silveira, Maria Lúcia Félix de Souza, Cássia Fernandes, Adelice Silveira e Lena Castello Branco; os escritores André de Leones, Edival Lourenço, Flávio Carneiro, Leon Rabelo, Lucão e Gustavo Palmeira; e os os jornalistas Fabrício Cardoso, Silvana Bittencourt, Karla Jaime, Fabrícia Hamu e Rogério Borges. São textos publicados nos últimos dez anos no jornal e que, além de comentarem os contextos mais atuais, também fazem registros relevantes do passado.


Dessa forma, o POPULAR ressalta a importância da crônica no jornalismo em geral e no jornal em particular, revelando o quanto esse gênero continua a mobilizar seus leitores, a acionar seus sentimentos e recordações, a envolvê-los em um momento prazeroso de leitura. Nos seus 83 anos de circulação, o principal jornal de Goiás sempre abriu espaço nobre para as crônicas, contando com times de primeira linha para entregar textos diferenciados. O e-book mostra isso e não poderia haver um presente melhor para celebrar seu aniversário.


Cronistas históricos

No decorrer do tempo, O POPULAR contou entre seus cronistas com escritores e escritoras que estão entre os mais importantes do Estado. Confira alguns desses nomes:


Nas páginas do POPULAR, nossa literatura

Em 1955, em seu antigo Suplemento Literário, o POPULAR publicou os versos de um poeta que acabara de estrear e que apresentava três novos trabalhos, com exclusividade, ao jornal. Seu nome é Gilberto Mendonça Teles e os leitores daquela edição puderam apreciar, em primeira mão, estrofes dos poemas Propriedade, O Senhor do Vale e Promessa, que estariam inseridos no livro Limitações do Acaso. Ao lado, um texto de autoria da artista plástica Maria Guilhermina, que quatro anos depois ganharia o Prêmio da Bienal de Escultura de São Paulo, e também versos do poeta anapolino Edir Guerra Malagoni.


Ao longo de sua história de 83 anos, o POPULAR nunca abdicou de sua vocação de dar espaço à cultura goiana, abrindo suas páginas para cobrir a carreira dessas pessoas, para fornecer uma vitrine aos seus trabalhos, para mediar a relação desses artistas com um público mais amplo. E na literatura isso não foi diferente. Autores e autoras de Goiás sempre encontraram as portas abertas para divulgar suas criações, para expor suas ideias, para apresentar sua poesia e sua prosa. Alguns tiveram espaços fixos, em colunas de crônicas, por exemplo. Outros foram entrevistados pelo jornal. O que não faltou foi estímulo.



Em 19 de abril de 1959, por exemplo, o mesmo Gilberto Mendonça Teles, que depois se consagraria como um dos principais poetas brasileiros entre os autores surgidos nos anos 1950 e 1960, volta a ter destaque. Na página Panorama Literário, ele fala dos livros Planície (1958) e Alvorada (1955), duas de suas primeiras obras. Também são divulgadas informações sobre novos projetos de Carmo Bernardes, de Bernardo Élis e até de Zoroastro Artiaga, que aguardava a “entrega dos três volumes de seu livro Geografia Histórica e Econômica do Estado de Goiás. A gênese de um trabalho de referência.


Gilberto ainda frequentaria muitas vezes as páginas do jornal, até mesmo escrevendo textos exclusivos para o POPULAR, como quando concedeu uma entrevista, na edição de 2 de maio de 1976, para falar sobre a segunda edição do livro A Poesia em Goiás, publicada pela histórica Editora Oriente, que marcou época ao ser um porto seguro para a produção literária do Estado. Outros expoentes maiúsculos de nossa literatura, como José J. Veiga (na prosa) e Affonso Félix de Sousa (na poesia), tiveram suas trajetórias acompanhadas pelas páginas do jornal e suas obras lembradas após suas mortes.


Nos anos 1970, outro nome de destaque do panorama literário de Goiás respondeu pela edição do Suplemento Cultural do POPULAR. O romancista, contista e dramaturgo Miguel Jorge primava por oferecer ao leitor a nata da literatura não só do Estado, mas também do Brasil. Em 24 de agosto de 1976, por exemplo, para homenagear o escritor Murilo Mendes, que havia morrido aos 74 anos de idade, publicou dois de seus poemas, Os Dois Lados e O Impenitente. Já em 1979, o espaço traz versos do poeta chileno Pablo Neruda, que teve uma passagem por Goiânia, e uma crônica do mineiro radicado em Goiás, Anatole Ramos.

Quem também dirigiu o Suplemento Literário do jornal por um período foi o escritor Modesto Gomes, quando publicou longas entrevistas com autores, como Bernardo Élis. Único goiano a ingressar na Academia Brasileira de Letras e dono de clássicos como Ermos e Gerais e O Tronco, Bernardo teve sua carreira contada pelas páginas do POPULAR. Em determinado momento, chegou a atuar como redator de seu suplemento literário. Em julho de 1975, por exemplo, Miguel Jorge escreve um longo texto em que defende a eleição de Bernardo para a ABL, quando ele disputava a vaga com o ex-presidente Juscelino Kubitschek.


Marieta Telles Machado, uma das escritoras mais importantes de Goiás, também publicou textos no POPULAR, como na edição de 11 de abril de 1965, quando apresentou o conto Aninha. Já no primeiro dia do ano de 1967, num Suplemento Literário dirigido por Modesto Gomes e redigido por Bernardo Élis, Marieta publica um texto de crítica literária, em que analisa o romance Crime e Castigo, do autor russo Fiódor Dostoiévski. Quem também esteve nas páginas do jornal foi a escritora Rosarita Fleury, não só com notícias de sua carreira, mas também com trechos de seus livros publicados no informativo.


Jornalista Jackson Abrão faz a leitura da Crônica "O Mais Terrível dos Labirintos",

de Flávio Carneiro


Eventos e projetos literários

Por muitos anos, O POPULAR publicou um material especial para auxiliar os alunos que iam prestar vestibular nas duas principais instituições de ensino superior goianas, a Universidade Federal de Goiás e a então Universidade Católica de Goiás, hoje PUC Goiás. A partir das obras literárias indicadas para os processos seletivos das duas universidades, eram elaborados cadernos com comentários sobre esses livros, com textos analíticos de renomados professores, que ajudavam os candidatos a ler melhor os títulos listados.


O Pop Vest, nome dado ao projeto, teve várias edições, com semanas seguidas de publicações, tomando um livro por edição. Mas essa não foi a única forma que o POPULAR marcou sua presença no apoio ao hábito de leitura de seu público. Em 1999, o jornal reuniu um júri, composto por dez professores de literatura, bibliófilos, escritores, jornalistas da área, para escolher os mais relevantes clássicos das letras do Estado no século 20. Esse cânone foi publicado na edição de 31 de dezembro daquele ano.

Em 2006, o jornal apoiou o lançamento de novas edições dos livros eleitos em 1999. Na Biblioteca Clássica Goiana - Século XX, estão os livros Tropas e Boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos, Veranico de Janeiro, de Bernardo Élis, Jurubatuba, de Carmo Bernardes, Via Viagem, de Carlos Fernando Magalhães, Nos Ombros do Cão, de Miguel Jorge, Joana e os Três Pecados, de Maria Helena Chein, Aquele Mundo de Vasabarros, de José J. Veiga, Relações, de Heleno Godoy, e Elos da Mesma Corrente, de Rosarita Fleury.

O jornal também dedicou ampla cobertura a eventos literários ocorridos em Goiás, como 1º Congresso Nacional de Intelectuais, realizado em Goiânia entre 14 e 21 de fevereiro de 1954. O encontro trouxe à cidade nomes como o poeta chileno Pablo Neruda e o autor baiano Jorge Amado, influenciando gerações de autores locais. Em 2005, a capital voltou a sentir aquele clima com a 1ª Bienal do Livro de Goiás, que reuniu aqui autores e autoras como Lygia Fagundes Telles e Ariano Suassuna. E o POPULAR esteve presente em ambos.

Os jovens leitores também foram contemplados com o estímulo à leitura por parte do POPULAR. Por mais de duas décadas, o jornal publicou o suplemento Almanaque, destinado às crianças e que estava recheado de histórias com ludicidade e imaginação. Autoras como Valéria Belém e Augusta Faro criavam narrativas que conquistavam os pequenos leitores, ilustradas por artistas plásticos, como Adriana Mendonça e Poly Duarte, levando-nos a sonhar. Afinal, o hábito da leitura, muitas vezes, é criado na infância.


O que você leu aqui

Muitos dos maiores vultos da literatura brasileira e até expoentes internacionais foram entrevistados por equipes do POPULAR durante todas essas décadas de história. As páginas do jornal registraram suas ideias, seu imaginário, suas obras, suas vidas e suas mortes no decorrer de todo esse tempo. Em 1977, foi noticiada aqui a partida de Clarice Lispector e, em 1999, o falecimento de João Cabral de Melo Neto, por exemplo. Homenagens e resgates de nomes esquecidos não faltaram durante todo esse tempo.

Quando, na Bienal do Livro de Goiás, em 2005, o palco do Teatro Rio Vermelho, no Centro de Convenções, foi ocupado por Ariano Suassuna, a plateia pôde presenciar o escritor paraibano pegar uma edição do POPULAR nas mãos para se referir, com seu habitual bom humor, a uma entrevista que ele havia concedido ao veículo. No mesmo evento, a reunião dos autores Luis Fernando Verissimo, Carlos Heitor Cony, Moacyr Scliar e Zuenir Ventura não só foi registrada, como o jornal trouxe entrevistas com todos eles.


Outros pilares de nossa literatura também deram entrevistas ao jornal. Lygia Fagundes Telles concedeu não uma, mas duas entrevistas exclusivas. Paulo Coelho, o autor brasileiro mais lido ao redor do mundo, falou algumas vezes com nossos repórteres. O poeta Manoel de Barros mandou suas respostas escritas de próprio punho, via fax. Os principais nomes da literatura infantojuvenil nacional, como Ziraldo, Ruth Rocha, Lygia Bojunga, Ana Maria Machado e Marina Colasanti conversaram sobre seus trabalhos com o POPULAR.


Isabel Allende, Salman Rushdie, Alan Pauls, Neil Gaiman, Tom Wolfe, Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Pedro Juan Gutiérrez, Inês Pedrosa foram destaques internacionais que concederam entrevistas ao jornal ao longo do tempo. Encontros literários em Pirenópolis e Goiás receberam nossa cobertura, assim como bienais internacionais do livro de São Paulo e Rio de Janeiro e da Festa Literária de Paraty, a Flip, onde o jornal conversou com Ferreira Gullar e com o dramaturgo ganhador do Oscar, Tom Stoppard.

Diversidade de visões e opiniões, hoje e sempre

História O POPULAR reafirma, aos 83 anos, o compromisso de seguir valorizado a multiplicidade de olhares sobre a realidade goiana


A crônica é classificada, nos estudos de jornalismo, como um gênero opinativo, já que é autoral e traz embutida uma interpretação do mundo e dos acontecimentos, expondo opiniões que, não raramente, são apresentadas de forma mais irônica do que um artigo de opinião tradicional, por exemplo. Resguardar seu espaço, algo que o POPULAR fez durantes seus 83 anos de existência até aqui, foi uma das tantas maneiras que o jornal encontrou para manter aceso ao debate de ideias. E renova o compromisso nesse aniversário.


Mesmo em tempo de hostilidades contra o jornalismo, entre censuras e perseguições, o POPULAR abriu suas páginas para divergências de opiniões. Vale lembrar que quando foi inaugurado, em 3 de abril de 1938, o Brasil vivia uma ditadura, a do Estado Novo, de Getúlio Vargas, instalada em 1937. O jornal ainda atravessaria os 21 anos da ditadura militar, entre 1964 e 1985, em que também havia o cerceamento da informação e da palavra. Mas os espaços para a emissão da opinião foram mantidos até nesses períodos.


Tanto que, a partir deste aniversário, o jornal, já não mais restrito ao papel e tinta, vai dispor de suas múltiplas plataformas para valorizar ainda mais cronistas e colunistas que mantêm viva essa tradição. Ações nas redes sociais e melhor posicionamento editorial do jornalismo opinativo, com destaque sobretudo à análise, tomarão corpo. Fique atento às mudanças que vêm por aí.


Olhar atento e qualificado sobre a realidade

O papel com impressão artesanal. Depois, formas mais modernas e eficientes de registrar a informação em suas páginas, que foram ganhando cores, imagens, mais vida. Daí vieram os boletins que entravam na programação vespertina da TV Anhanguera, sob o selo de O POPULAR na Cidade. Uma nova redação, totalmente informatizada, e o desafio de ingressar no universo digital. Vieram as novas linguagens e plataformas, a produção de conteúdos audiovisuais para redes sociais, as entrevistas como se fosse uma emissora de TV, os podcasts como se fosse uma estação de rádio, o ritmo da notícia cada vez mais rápido.


O jornalismo é resiliente e se adapta a todas as formas que lhe apresentam. As inovações nunca o assustaram e a capacidade de se moldar às novas demandas do público e do mundo é uma característica essencial para a sua sobrevivência e modernização. Em seus 83 anos de história, o POPULAR demonstra possuir esse perfil, dialogando com os tempos que se propõe a cobrir e interpretar, acompanhando inovações, transformando seus contornos, reinventando-se a cada mudança. Mas há pilares que permanecem os mesmos e, como valores e princípios, precisam ser preservados.


O espaço da diversidade da opinião, a atenção ao mundo que não para de girar a sua volta, a possibilidade de ler essa realidade e buscar a informação exclusiva, a fonte confiável, o melhor caminho para acessar os dados que o público tem o direito de conhecer estão entre esses alicerces fundamentais. É nessa condição, com esse desejo, que todos os dias um conjunto de profissionais une esforços nas mais diferentes áreas, dominando uma ampla gama de linguagens e competências, acionando suas fontes e investigando o que pode estar por trás de uma situação, de um acontecimento, para levar a informação até você.


Isso inclui, claro, a opinião que se consolida a partir de dados, não de achismos; que propõe o debate e não eliminação da divergência; que pondera com argumentos, não com posturas bélicas. Agindo assim é que, em diferentes áreas, o POPULAR busca publicar análises que possam agregar algo a quem procura compreender profundamente contextos e aspectos de situações que impactam sua vida.


Na política, as radiografias do cenário do poder em Goiás, realizadas por jornalistas experientes, como Cileide Alves, em seu artigo semanal, Fabiana Pulcineli, com seu blog na versão on-line, e Caio Salgado, na coluna Giro.

Em outras áreas, a linha seguida é a mesma. No esporte, Paula Parreira nos traz uma visão peculiar e informações exclusivas, que você só lê aqui.


Na internet, a crônica de Catherine Morais empresta novos sentidos ao que nos rodeia. Na área econômica, Wanderley de Faria nos atualiza sobre o mercado automotivo na versão on-line. Já a colunista Ana Carla Abrão traduz as tendências dos agentes econômicos. Além dos talentos de Goiás, o jornal ainda oferece aos seus leitores, em várias plataformas, a visão e a apuração de jornalistas nacionalmente reconhecidos, como Eliane Cantanhêde e Mário Sérgio Conti.


No mesmo local, o traço crítico e afiado do chargista Jorge Braga, com seu humor que muitas vezes incomoda os poderosos e faz rir o trabalhador anônimo, e colunas que falam de nosso bem-estar e nossa saúde, como a da nutricionista Jordana Araújo. A boa mesa está presente na coluna de Breno de Faria, assim como variados assuntos, do direito à medicina, do agronegócio à cultura, da história ao comportamento, da educação à geopolítica internacional. Entrevistas exclusivas em nossas diversas plataformas completam um cardápio variado de opções na obtenção de um jornalismo atual e mais completo.


Em suas mais de oito décadas de existência, essa sempre foi a atitude do POPULAR. A apuração das matérias com profissionalismo e seriedade, buscando o contraditório, ouvindo os lados envolvidos, contextualizando e interpretando; ao mesmo tempo, posicionando-se em editoriais e abrindo a oportunidade para que várias ideias possam ser lidas e debatidas, dos mais diferentes campos de atuação. Respeito às fontes, precisão da informação, confiabilidade nos momentos delicados, coragem nos períodos tensos e olhar para as mais distintas áreas, sem discriminação. Foi assim até hoje e continuará assim no futuro.


Expediente

Edição

Rodrigo Alves

Texto e Reportagem

Rogério Borges

Editores Executivos
Fabrício Cardoso e Silvana Bittencourt

Edição Digital
Michel Victor Queiroz


Fotos

Arquivo O Popular

Gabriel Hamon

Arte

André Luiz Rodrigues

Design

Marco Aurélio Soares



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