Os desafios de Vila Boa

Os desafios de Vila Boa

No momento em que comemora as duas décadas da conquista do título de Patrimônio da Humanidade, a cidade de Goiás tem muito a celebrar, mas também vislumbra o futuro com a missão de manter o que conseguiu de bom e buscar melhorar em seus pontos frágeis

Texto: Rogério Borges

  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão
  • Título do Slide

    Escreva sua legenda aqui
    Botão

Vinte anos atrás, Goiás estava em festa. Um sonho estava sendo realizado naquele 14 de dezembro de 2001, quando finalmente a Unesco, órgão ligado à Organização das Nações Unidas, referendou a concessão do título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade à antiga capital de Goiás, depois de um projeto que começou despretensioso e que foi ganhando corpo e apoio no final da década de 1990. Nesses vinte anos, muita coisa aconteceu, mas o núcleo urbano fundado pelo bandeirante Anhanguera quase 300 anos atrás está novamente em celebração, lembrando aquela data que alterou seus destinos.


Nesse momento de confraternização, o Instituto Biapó, que capitaneou as iniciativas na cidade neste ano de celebração, fará cerimônias, assim como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável pela preservação do sítio histórico. (veja programação). Ao mesmo tempo em que as festas ocorrem, Goiás olha para o futuro ciente dos desafios. Nesta última reportagem da série especial que O Popular vem publicando no decorrer do ano de 2021 sobre as duas décadas do título, vamos debater os obstáculos a serem superados e o saldo positivo deixado por várias iniciativas nesse período.


Uma das missões mais importantes é fazer com que a cidade de Goiás consiga atender as demandas de um local com forte apelo turístico. Passos nessa direção foram dados nas duas últimas décadas, com a criação de eventos, iniciativas de qualificação de mão-de-obra e maior visibilidade midiática de suas atrações, mas ainda não se chegou ao nível desejado. “O governo do Estado, nestes 20 anos, poderia ter colocado a cidade de Goiás numa vitrine mundial e não fez isso”, aponta Marlene Velasco, diretora do Museu Casa de Cora, de longe o local mais visitado da cidade, dado o interesse gerado pela poeta Cora Coralina.


“Quando fui à Colômbia, um agente de viagem me indicou uma cidade para visitar, Cartagena de Índias, porque ela é Patrimônio Mundial. Nós não fazemos isso. Aqui, na entrada da cidade, deveria ter um símbolo da Unesco informando que Goiás é Patrimônio Mundial”, sugere. “Eu mesma já tirei fotos assim em vários patrimônios da humanidade da América Latina e até mostrei aos gestores como exemplo. Ela é tratada como outra cidade qualquer, mas não é. A gente está cansada de falar. Nós somos diferentes. Mas ainda não despertou no goiano o que significa ter um título desses”, acrescenta Marlene.


Essa timidez em uma divulgação mais maciça da cidade também é diagnosticada pelo atual prefeito de Goiás, mas ele alerta para a realização disso de forma a não ameaçar as características locais, aquelas que justamente deram a honraria à antiga Vila Boa. “Jadir Pessoa, que é um antropólogo, afirma que sem o novo, nós paramos no tempo, mas sem o antigo, nós nos apresentamos ao presente e ao futuro de mãos vazias”, argumenta o prefeito Aderson Gouvea. “A cidade precisa preservar sua história, a memória, seu modelo colonial, as casas, a cultura, mas isso não pode ser impeditivo para o que o novo aconteça.”


Um “novo” que demanda ajustes. “Há elementos estruturais que precisam melhorar. A nossa internet aqui ainda não é boa. Essa é uma queixa antiga. Temos que avançar nesse sentido para que as pessoas tenham essa sintonia de estar aqui apreciando a cultura, mas com esse traço de modernidade”, admite o prefeito. “As novas gerações querem uma cidade bem cuidada, que não abra mão de sua história, mas que abra caminho para a juventude. Não podemos descuidar dos idosos, mas a juventude também precisa ser olhada. A juventude precisa de inovação tecnológica. Esse é um desafio da atualidade.”


Em toda cidade turística, questões ligadas à hospedagem e à alimentação também são sensíveis. Goiás procurou qualificar um pouco mais esses serviços nos últimos anos, algo que foi amparado com a criação de cursos superiores na cidade ligados a essas áreas. A Universidade Estadual de Goiás (UEG), por exemplo, oferece no campus Cora Coralina o curso de graduação em Turismo e Patrimônio, além de uma especialização em Desenvolvimento Regional e Planejamento Turístico. Essa evolução acadêmica foi um dos efeitos benéficos que o título de Patrimônio da Humanidade trouxe à comunidade.


Mas ainda há o que qualificar. “Temos uma melhoria nos locais de acolhida, de alimentação. Isso vem sendo trabalhado. As pessoas precisam passar por um processo de formação, que precisa ser contínuo, para oferecer um lugar melhor cuidado, mais embelezado nos hotéis, nas pousadas”, aponta o prefeito. “Temos um povo acolhedor, mas precisamos melhorar a forma como tratamos as pessoas que vêm para cá. Isso é modernizar também a cidade, se preparar para ser um lugar mais turístico. Precisamos manter nossa questão cultural, das pessoas daqui, mas a cidade precisa ser preparada para esse salto.”


Um salto que é defendido por muitas pessoas que transitam nessa seara. “Por isso eu acho que só festinha não resolve, tem que haver coisas concretas. Políticas públicas especiais para a cidade, um conselho gestor em patrimônio, com arquitetos, historiadores, cientistas, pesquisadores para estudar nossa realidade”, propõe Marlene Velasco. “Esse título deve ser aproveitado dessa maneira: para trabalhar nossa estima, para que abra portas”, afirma Salma Saddi, ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural em Goiás e uma das lideranças do movimento que lutou pelo título conquistado pela cidade.


“A cidade é Patrimônio Mundial através desse conjunto que pertence a todos nós. Não pode haver desentendimentos nesse sentido. O título é de todos, é do mundo”, pondera Salma. “São pouquíssimas cidades, pouquíssimos conjuntos que são Patrimônio Mundial”, enfatiza. No Brasil, apenas 23 locais têm essa honraria (Patrimônio Histórico ou Ambiental da Humanidade), como os centros históricos de Ouro Preto, Olinda, Congonhas do Campo, Salvador, São Luís e Diamantina. No Centro-Oeste, só há quatro: além de Goiás, o Plano Piloto, em Brasília, e os parques nacionais da Chapada dos Veadeiros e das Emas

Cultura e meio ambiente como esteios

Nesta terça-feira, dia 14, data exata dos 20 anos da obtenção do título de Patrimônio da Humanidade pela cidade de Goiás, será aberta oficialmente mais uma edição do Festival Internacional de Cinema Ambiental, FICA, iniciativa iniciada ainda em 1999 como uma das ações para dar visibilidade à antiga Vila Boa no esforço de defender sua candidatura junto à Unesco. “Fizemos a primeira edição do FICA na cidade de Goiás já ligada à possibilidade de uma análise internacional desse título de Patrimônio da Humanidade, o que casou muito bem”, recorda Nasr Chaul, titular da pasta da cultura estadual naquele período.


Essa escolha não foi aleatória. O FICA simboliza a conjunção de dois fatores que não só ajudaram a cidade a conquistar o título, mas que a diferenciaram em sua manutenção nas últimas duas décadas, emprestando-lhe uma identidade muito própria: o encontro entre cultura e meio ambiente. Muitas das ações durante todo esse tempo miraram essas duas áreas. Em eventos, na instalação de cursos superiores, no marketing criado em torno de suas belezas, Goiás abraçou essa comunhão, que já está no próprio dossiê sobre os encantos da cidade. Sua moldura ambiental e seu valor cultural se uniram no documento.


A preservação de ambas, portanto, não é uma mera opção, mas uma obrigação, algo essencial para que Goiás permaneça gozando do título da Unesco. É bom lembrar que a honraria, caso tal proteção não ocorra, pode, em tese, ser retirada. “Existe muita cobrança de que Goiás pode perder o título, de que está na iminência de que isso aconteça. Não tem nada disso”, tranquiliza Salma Saddi, ex-superintendente do Iphan em Goiás. “Se Goiás souber preservar o que tem lá, vai manter o título. Agora, é preciso ter bom senso das pessoas”, alerta. Um bom senso que precisa vir da sociedade civil e do poder público.


“Já existe um programa de monitoramento das queimadas. Há treinamento preventivo de brigadas. A preservação da Serra Dourada é extremamente importante não só para a questão ambiental, mas para as atividades econômicas”, informa Rodrigo Santana, geógrafo e especialista em desenvolvimento urbano, que também colaborou no dossiê da candidatura junto à Unesco. “Estamos trabalhando no novo Plano Diretor da cidade, apontando novas diretrizes em que devemos mirar o desenvolvimento econômico, mas preservando o patrimônio ambiental e histórico”, ressalta.


“Vinte anos atrás, muitos bairros não existiam ainda. O desafio é levar saneamento básico”, reforça o prefeito Aderson Gouvea. “Os 20 anos do Patrimônio tiveram uma contribuição para a preservação ambiental, para o mundo conhecer Goiás. O Caminho de Cora já traz essa inovação. Temos o distrito de Buenolândia. Tem um movimento para restaurar a casa do Bartolomeu Bueno da Silva. Lá é o primeiro arraial de Goiás. Tem um projeto também de valorização do Caminho do Ouro, que começa em Buenolândia e continua. Tem a Estrada Imperial. São coisas futuras em que a gente pode avançar”, lista o gestor.


Atrações turísticas atraem mais público e eventos e isso fez de Goiás um pólo, mas ainda com gargalos. “É um desafio. Já houve várias iniciativas de valorizar mais, por exemplo, nossa gastronomia. Já tivemos aqui festivais de gastronomia para mostrar e dar vazão aos nossos pratos típicos. Os festivais são oportunidades de aprender e melhorar na qualidade, na apresentação dos produtos, o que gera ganho econômico também nesse sentido”, avalia o prefeito. Já é possível encontrar em Goiás bistrôs e restaurantes típicos de qualidade, hotéis e pousadas bem estruturados, mas é necessário haver mais coordenação.


Um exemplo é a relação entre centros culturais e museus existentes na cidade. “Falta uma gestão geral para fazer com que esses equipamentos dialoguem mais entre si, percebam suas potencialidades, dividindo informações, como horário de funcionamento, no trato com os turistas, no calendário dos eventos”, aponta PX Silveira, produtor cultural responsável pela programação do Instituto Biapó. “Não precisa uma coisa acontecer atrás da outra. Temos dois semestres para preencher um calendário interessante. Goiás tem muito conteúdo. Com um pouquinho de estratégia, a cidade vai ganhar bastante”, argumenta.


O FICA é um desses eventos que não se resumiram a uma semana no ano. Ele fundou uma tradição de produção audiovisual na cidade. O Instituto Federal de Goiás (IFG) criou ali um bacharelado em Cinema e Audiovisual e um curso técnico integrado em Produção de Áudio e Vídeo. Já a tradição literária da cidade, onde nasceram nomes como Cora Coralina e Hugo de Carvalho Ramos, incentivou a criação de um curso de Letras pela UEG. Também há disponíveis cursos de História na UEG e de Arquitetura e Urbanismo na UFG. São as vocações de uma cidade que une diversas áreas para se mostrar ao mundo.


O saldo de 20 anos


Festivais – Goiás ganhou vários eventos, com especial atenção para o FICA, que andou tendo problemas nas últimas edições, mas que tem a promessa de ser retomado com mais força daqui para frente. Festivais literários e gastronômicos também integram o calendário.


Universidades – Campi de três instituições de ensino superior (UFG, UEG e IF Goiás) deram mais oportunidades para os jovens estudarem na própria cidade, com cursos em várias áreas, de Gestão do Patrimônio ao Direito, de Ciências Agrárias à Filosofia.


Reformas e preservação – Depois das obras físicas feitas para a obtenção do título de Patrimônio da Humanidade, houve a enchente de 2001 e a recuperação da cidade. Prédios têm sido restaurados nas duas últimas décadas, com inaugurações pontuais nesse período.


Visibilidade – Celebrações, como a Procissão do Fogaréu, ganharam fama nacional neste período, atraindo muitos turistas, assim como os versos de Cora Coralina. Goiás deixou de ser um pólo apenas regional de turismo, ganhando mais estrutura e visitantes.


Melhor acesso – A duplicação da GO-070, que liga Goiânia à cidade de Goiás, facilitou o acesso à antiga capital. A criação do Caminho de Cora, passando pelos antigos arraiais de Ouro Fino e Ferreiro, deram outro acesso à cidade, com uma opção mais aventureira.


Cidade em festa

Alguns eventos marcarão os 20 anos da concessão do título de Patrimônio da Humanidade à cidade de Goiás. Confira:


Igreja do Rosário (Dia 14, a partir das 11h) – Apresentação de seresteiros, ternos de congo, corais, declamação de poesias e exposição de obras de arte de Amaury Menezes e Élder Rocha Lima. Lançamento de selo comemorativo e entrega de comendas e diplomas a entidades e personalidades.


Museu Conde dos Arcos (Dia 15, a partir das 9h) – Abertura da exposição Patrimônio e O Tempo: Outras Narrativas, com fotografias históricas, produções técnicas e depoimentos.


Escritório do Iphan em Goiás, em frente à Igreja São Francisco (Dia 15, às 19h) – Cantata de Natal, com Coral da Secretaria Estadual de Educação.

Voltar para a página inicial

Expediente

Editores Executivos

Silvana Bittencourt e Fabrício Cardoso


Edição Multiplataforma

Gabriela Lima, Michel Victor Queiroz e Rodrigo Alves


Reportagem

Rogério Borges


Fotos, Vídeo e Edição

Weimer Carvalho

Diomício Gomes

Fábio Lima


Design
Marco Aurélio Soares

Arte
André Rodrigues e Luiz Antena
Share by: