Rumo ao Mundial: A vontade supera tudo

Dupla de clubes goianos é convocada para disputar o Mundial do México. Goleiro e atacante se ajudam no dia a dia e fazem planos para o torneio

O caminho de Dedeo e Daniel se cruzaram graças ao futebol. Parceiros em campo na modalidade para amputados, mesmo jogando em equipes diferentes, os dois vivem a expectativa de realizar um sonho. A convocação para defender a seleção brasileira no Mundial já é uma realidade. Agora, eles precisam vencer a ansiedade e alguns obstáculos para estar na competição que começa no dia 25 de outubro, em Guadalajara, no México.

Aos 39 anos, Dedeo é goleiro da Aparecidense. Se nos gramados ele tem como uma das missões parar o atacante Daniel, de 32 anos, da Adfego, fora dele prevalece a amizade, que, inclusive, rendeu abrigo ao amigo paraense, que deixou Santa Izabel, na região metropolitana de Belém, para tentar a sorte em Goiânia. Agora, os dois comemoram juntos a chance de participar de um Campeonato Mundial.

Ambos viveram dramas na infância. Dedeo perdeu a mão esquerda em um acidente automobilístico aos 6 anos. Já Daniel foi picado por uma cobra e o tratamento inadequado no interior do Pará levou à amputação da perna esquerda aos 11 anos. “No começo, foi difícil. Só chorava. Para mim, tinha acabado tudo. Quando conheci uma associação, tudo mudou. Comecei a jogar com 16 anos, na APPD (Associação Paraense de Pessoas com Deficiência), de Belém. Começamos a viajar, jogar e tudo mudou”, relembra Daniel.

Há 1 ano e 2 meses, Daniel resolveu deixar o Pará e vir para Goiânia. No começo, ainda difícil, Dedeo o abrigou em casa. Depois, se estruturou e conseguiu trazer a mulher Clarice e os filhos Daniel, de 15 anos, e Christopher Daniel, de 8. “Estava pensando em desistir, sem motivação no Pará. Falei com o Dedeo e ele me disse que poderia haver mais oportunidades aqui. Vim e o técnico da seleção brasileira me viu. Foi muito rápido”, destacou Daniel, que teve sua primeira convocação em janeiro deste ano.

Dedeo é mais experiente em termos de seleção. Sua primeira passagem foi em 2015, quando conquistou o título da Copa América pela equipe nacional. Entre idas e vindas, ele nunca conseguiu disputar um Mundial, mas agora estará no time que buscará o pentacampeonato do mundo. “A expectativa é muito grande para disputar esta competição”, comentou Dedeo.

A paixão do goleiro da seleção de amputados pelo futebol é tamanha que ele chegou a jogar nas categorias de base do Goiás, do Goiânia e do Grêmio Inhumense, como lateral esquerdo e volante. Aos 21 anos, o sonho de se transformar em jogador de futebol não se concretizou, mas ele não deixou de jogar. “Fiquei na várzea. Até hoje, jogo. Me ajuda a manter a forma”, destaca Dedeo, que, no futebol de amputados, como goleiro, não pode deixar a área.

A limitação imposta pela regra, no entanto, não o impede de sempre tentar dar vazão ao seu instinto de jogador de linha. “Ficamos com aquela vontade (de sair jogando com a bola nos pés). Às vezes, conseguimos um espaço para jogar a bola na área do adversário. Já acertei a trave duas vezes, mas nunca cheguei a marcar um gol como goleiro. Vou seguir tentando”, revelou o jogador, que costuma usar o apelido nas redes sociais grafado com dois “o” no final (Dedeoo) “por causa de como a torcida grita”, destaca.