Possui histórico controverso o lote da Rua 26-A no Setor Aeroporto, em Goiânia, onde em 1987 ficava o ferro velho de Devair Alves Ferreira, um dos principais focos de contaminação do césio 137. Vizinho das 39 pessoas da região que foram diagnosticadas com câncer nesses 30 anos, ele é um dos dois que ainda estão concretados e desocupados. O outro lote fica na Rua 57, no Centro. O isolamento, segundo moradores próximos, nem sempre foi uma realidade, chegando em determinadas épocas a transparecer certo abandono.
A situação chamou a atenção, inclusive, da professora sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), Emico Okuno, que esteve em Goiânia em 2013 para um congresso e aproveitou para visitar o local. “O cimento estava muito mal feito e tinha capim crescendo”, conta ela, que até enviou uma foto para a reportagem do POPULAR para mostrar como estava. Na imagem, ela aparece colhendo porção do capim que foi levada para o laboratório da universidade, onde fizeram a medição da concentração de césio (veja correlata).
É de responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) a averiguação do estado de conservação dos locais contaminados. Além disso, segundo o chefe da Divisão de Rejeitos da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear, o físico Walter Mendes Ferreira, que acompanhou todo o processo de descontaminação feito em 1987, cabe à Cnen notificar a prefeitura para que sejam providenciados reparos por parte do proprietário, caso seja necessário. Existe, ainda, o alerta de que qualquer intervenção deve, primeiro, ser comunicada à Comissão.
O lote da Rua 57, onde ficava a casa de Roberto dos Santos Alves, um dos homens que retirou a peça do aparelho de radioterapia de dentro do prédio abandonado do Instituto Goiano de Radioterapia, é propriedade do Estado. Já o da Rua 26-A manteve-se como propriedade privada, do empresário Lourival Louza Júnior, dono do Shopping Flamboyant. Via assessoria de comunicação, ele informou que nunca houve manutenções no lote e que jamais foi avisado de algum órgão que realiza o serviço no local.
A presidente da Associação das Vítimas do Césio 137 (AVCésio), Suely Lina Moraes Silva, que tem uma casa na mesma região, conta que o lote chegou a ser indevidamente utilizado como estacionamento de veículos pesados por moradores do prédio em frente. De características diferenciadas em relação aos demais terrenos, o lote da 26-A possui uma mina d’água e, com o peso dos caminhões, o concreto começou a afundar, ameaçando a integridade do cimento. Para evitar complicações, a Cnen isolou o local construindo uma mureta na entrada.