Por 16 dias, pessoas contaminadas circularam pela cidade, visitaram parentes em outros municípios, trabalharam, andaram de ônibus e espalharam a radiação. Por 16 dias, o césio 137 foi dividido, manuseado, jogado no vaso sanitário e até ingerido. O período transcorrido entre a abertura da cápsula contendo a substância e a confirmação oficial desafiou a capacidade de controle, de identificação dos locais atingidos e até mesmo de dimensionamento da tragédia.
O primeiro passo foi relacionar e isolar todos aqueles que tiveram contato direto com o césio e levantar, a partir dos relatos de cada um, os locais visitados e as pessoas com as quais eles se encontraram. Diante do contexto, as buscas terrestres iniciadas pelos técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) precisaram ser acrescidas do método de levantamento aeroradiométrico. Foram identificados, ao todo, oito pontos principais de contaminação, 46 residências que tiveram de ser descontaminadas e 45 endereços que sofreram contaminação residual.
Locais com níveis anormais de radiação foram descobertos até o fim do mês de outubro de 1987, ou seja, um mês após o conhecimento oficial de que estava ocorrendo um acidente radiológico em Goiânia. A partir do relatório do ex-presidente da Cnen, Rex Nazaré Alves, entregue em março de 1988 ao Senado, é possível mensurar a maneira como o césio se espalhou pela cidade. Pontos de contaminação variados, como calçadas, pedaços de muro, pontos de ônibus, meios-fios e trechos de ruas foram identificados durante a fase de levantamento.
Dos oito pontos principais de contaminação, sete foram isolados imediatamente e um último, a sede da Copel Recicláveis, no Setor Santa Genoveva, foi descoberta posteriormente por ter recebido papéis contaminados. Esses sete locais estavam no Centro e nos setores Aeroporto, Norte Ferroviário e Dos Funcionários, incluindo os lotes que tiveram de ser desocupados e concretados, como o da Rua 57, casa de Roberto dos Santos Alves e onde foi aberta a cápsula contendo o césio, e o da Rua 26-A, onde ficava o ferro-velho de Devair Alves Ferreira.