Santa memória!

Recorte da história goiana, Memorial Santa Clara resgata a trajetória de missionárias alemãs que fundaram colégio em Campinas

Clenon Ferreira

clenon.ferreira@opopular.com.br

Imagine a cena: Goiás, outubro de 1921. Após uma longa viagem do interior da Alemanha para o Brasil e, depois, indo em direção ao Oeste sob o sol do Cerrado, quatro freiras missionárias aportam na então Campininha das Flores. Na pacata cidade não se falava em outra coisa. Essas mulheres acabariam fundando o tradicional Colégio Santa Clara, fruto de uma iniciativa ousada para a época. É essa história que a série O Museu é Seu! conta hoje por intermédio do Memorial Santa Clara.

Charmosa saleta que guarda relíquias mais antigas que a própria Goiânia, o museu estabelecido desde 2010 no colégio de Campinas é um interessante recorte da história da região. Fotografias, móveis, documentos, objetos pessoais, artigos de jornal, bonecas e utensílios domésticos resumem os itinerários das quatro irmãs franciscanas. Também apresenta a trajetória do Colégio Santa Clara pelo século 20.

“Foi uma árdua viagem da Alemanha até Campinas. As quatro Marias percorreram caminhos inimagináveis para a época e, quando chegaram aqui, esbarraram com a língua e uma cultura completamente diferente”, explica a irmã Nathalia Jakitsch, que faz as visitas guiadas. O museu réune objetos pessoais então guardados nos cômodos da antiga escola e doações de outras igrejas e de membros eclesiásticos.

De um lado, é possível ver as ferramentas de marcenaria usadas pela irmã Maria Afra Sontheimer para fazer os sapatos das alunas do Santa Clara. A alemã aprendeu com o pai a confeccionar calçados e tornou-se exímia sapateira e encadernadora. No outro canto do museu, o público pode conferir instrumentos odontológicos usados na época pela irmã Maria Kiliana Kempf para tratar a comunidade. “Imagine só, quando elas chegaram na região não havia quase nada”, explica irmã Nathalia.

O Memorial Santa Clara também guarda documentos, bonecas da época e fotos das primeiras turmas de formandas do colégio. Tudo bem organizado. “Foram anos de pesquisa e estudo para se chegar até o acervo, fruto de doações e das nossas buscas na própria escola. Fazemos visitas guiadas pelo colégio com os alunos e abrimos para que a comunidade possa se sentir integrada ao ambiente, que é patrimônio da cidade”, explica.

O memorial eclesiástico não se reduz a uma coleção de antiguidades e curiosidades. Para a irmã Nathalia, trata-se de um acervo sobre mulheres fortes que ajudaram a formar a identidade goianiense. “Precisamos reforçar a nossa história, conhecer o passado para compreender o presente”, pontua a irmã.

Ficha técnica

Memorial Santa Clara

Idade: 9 anos

Criação: 2010

Endereço: Rua José Hermano, nª 920, Campinas

Administração: Colégio Santa Clara

Visitação: Terça-feira, das 8 às 18 horas (por agendamento)

Média de visitação por mês: 500 pessoas

Entrada franca

Informações e agendamento: 3223-9951

Cenário de filme

Quem já estudou ou passou pelo Colégio Santa Clara, em Campinas, sabe que o espaço é uma verdadeira locação para filmes e séries. Fundada em 1922 e com arquitetura mista e fachada art déco, a escola era inicialmente para meninas - só nos anos 1970 abriu as portas para meninos. Já teve mais de 80 mil alunos e está localizada ao lado da Matriz de Campinas, com diversos prédios ao seu redor, como a Biblioteca Cora Coralina. A capela do colégio impressiona por seus azulejos decorativos e vitrais que iluminam todo o cômodo.

Vá até o Memorial e veja...

Instrumentos musicais

Em 1924 o Santa Clara recebeu o seu primeiro piano, encomendado da Alemanha. Foi uma surpresa para as alunas, já que muitas nunca tiveram contato com o instrumento. Há no memorial uma seção focada apenas em instrumentos musicais, como violino. Na época do ouro do rádio, as alunas conseguiram até gravar um disco, que também está exposto.

Passeio fashion

Montadas em bonecas antigas, o museu convida o público a fazer um passeio pela transformação do uniforme das alunas do Santa Clara. É possível ver as mudanças da moda ao longo das décadas, como os chapéus, gravatas e vestidos, em cores, comprimento e adornos diferentes. Há também um armário só com formas de sapatos de vários números vindos da Alemanha.

Fotografias de época

Imagine Campininha das Flores há 90 anos. Com diversos fotografias de época em preto e branco, é possível conferir como o bairro era no início do século 20, quando ainda nem existia Goiânia. Também há um rico acervo de imagens das estudantes.

Ciência e religião

Colégio vinculado à igreja católica, o Santa Clara também apontava para os estudos científicos. Estão expostos no memorial instrumentos de pesquisas científicas, como telescópios e objetos astronômicos. Há ainda toda uma parte de medalhas de concursos de matemática e biologia, por exemplo.

Quatro Marias

Cada uma das quatro Marias – Maria Bonifácia Vordermayer, Maria Benedita Tafelmeier, Maria Ludmilla Schoropp e Maria Willibalda Mayer – ganhou uma seção especial que explica sobre suas vidas, trajetórias e ofícios dentro do Santa Clara.