Zoroastro Artiaga

Respeitável pioneiro

Primeiro museu de Goiânia, Zoroastro Artiaga convida o público a dar passeio pela formação identitária, geográfica e cultural de Goiás
Clenon Ferreira
clenon.ferreira@opopular.com.br 

Transformação é palavra de ordem no Museu Professor Zoroastro Artiaga. Testemunha ocular de Goiânia, o prédio cravado no coração do Centro surgiu em 1942 e, décadas após décadas, viu a capital crescer. Pioneiro, foi o primeiro museu estabelecido na então nova capital, com seu desenho art déco, jeitão imponente e linhas simétricas. Como não poderia deixar de ser, o 

Zoroastro Artiaga abre a série de reportagens O Museu é Seu!, que começa a ser veiculada hoje no POPULAR.
Antes de mais nada, entenda bem: quando foi criado pelo arquiteto polonês Kazimierz Bartoszewski, o prédio não havia sido projetado para ser museu. Nasceu como o Departamento Estadual de Imprensa e, anos mais tarde, em 1946, se transformou em Museu Estadual. É por isso que a impressão que se tem hoje quando se adentra ao espaço é de que o edifício precisou se adaptar para acomodar o eclético acervo dividido nos dois pisos.

Tem de tudo no “Zoga” – como foi carinhosamente apelidado por seus funcionários. Museu natural, trata-se de um passeio para sair de casa e viajar pela trajetória mais íntima das terras que hoje compõem Goiás. No primeiro piso, amostras de 369 rochas e minerais extraídos do território goiano são expostos ao lado de fósseis, ossos, artefatos e urnas funerárias de populações pré-colonial e colonial. 

Há ainda destaque para aspectos ecossistêmicos e históricos do Rio Araguaia, além de uma seção etnográfica com peças da cultura material, como plumárias e cerâmicas dos indígenas. O público também se depara com um acervo das transformações da imprensa goiana, da prensa manual para papel à era digital dos computadores. “É um museu que conflui uma volta ao passado para entendermos o futuro que nos cerca”, explica a chefe de Núcleo de Museus de Goiás, a cineasta e historiadora Cássia Queiroz.

O espaço ainda apresenta peças que são verdadeiras relíquias históricas, como as bonecas carajás, patrimônio imaterial brasileiro. Ao lado delas, há toda uma coleção de fósseis, doada por estudiosos e arqueólogos das cidades de Itaberaí, Pedro Afonso (TO) e Inhumas na década de 1940. Pinturas como a da preguiça gigante, ao lado de partes de ossos e garras do megatério, chamada pelos indígenas de “besta gigante”, também impressionam.

No segundo piso, o acervo do Zoga reúne 542 itens de arte popular e do folclore goiano, como indumentária e cerâmica. Tem de tudo ali: desde os congos de Catalão, passando pelas Cavalhadas, até chegar aos rituais da Semana Santa na cidade de Goiás. Em outros cômodos, há a reprodução de uma casa rural de Goiás, exposição de arte sacra com imagens barrocas, santuários e oratórios, além de um laboratório para pesquisa e catalogação.

“O museu faz um resgate da memória e tradição, e como ela foi representada em diversos períodos históricos. Geografia, história, comportamento, moda, arte, linguística, comunicação, astronomia. Tudo conflui no Zoroastro”, afirma Cássia. Aos 73 anos, o Zoga, tombado como Patrimônio Histórico e Cultural, sobrevive aos avanços tecnológicos da museologia brasileira e se mantém como memória ativa de um passado profundo, mas também do presente. É uma viagem longínqua, carregada de mistérios das terras – e dos céus – do Brasil Central. 

Ficha técnica
Museu Estadual Professor Zoroastro Artiaga
Idade: 73 anos 
Fundação: 1946
Endereço: Praça Cívica, Centro
Administração: Secretaria Estadual de Cultura
Visitação: De terça-feira a domingo, das 9 às 17 horas
Média de visitação por mês: 2 mil pessoas
Entrada franca
Informações e agendamento: 3201-4675

Quem foi Zoroastro Artiaga?
Geógrafo, diretor, historiador, jornalista e professor, o itaberino Zoroastro Artiaga foi um grande pesquisador da historiografia goiana com obras importantes, como Dos Índios do Brasil Central (1947) e Riqueza Vegetal do Planalto Goiano e do Vale do Tocantins (1947). Serviu ao que hoje é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e percorreu todo o Estado mapeando a sua geografia. Ficou conhecido como o grande “divulgador do sertão”.

Em 1971, Zoroastro Artiaga, então com 80 anos de idade, retornou à direção do museu e, em entrevista ao POPULAR, declarou-se otimista quanto ao papel do espaço para a sociedade goiana. O Zoga apresentava problemas em sua estrutura física. “Obra penosíssima pela falta de recursos financeiros: contudo, o museu vai despertando a atenção de todo o País”, destacou à época. Com saúde debilitada, Zoroastro não conseguiu prosseguir à frente da instituição. Faleceu meses depois, em 1972. 

O futuro é agora
Como adequar um museu dos anos 1940 para a realidade tecnológica do século 21? É esse o desafio que o Museu Zoroastro Artiaga tem convivido nos últimos anos, fruto do crescente processo de digitalização dos museus, criação de novos centros culturais modernos e diálogo entre a museologia e a internet. Novos projetos para a modernização do espaço, de acordo com a chefe de Núcleo de Museus de Goiás, Cássia Queiroz, começam a ser pensados para o Zoga. 

“Já está traçada toda uma mudança de formato do museu. O prédio onde ele se encontra acabou ficando pequeno para o seu acervo. O que desejamos é levar essas peças para outro espaço, maior, e transformar o prédio histórico em salas expositivas digitais, virtuais, que abracem o futuro”, aponta Cássia. Ainda não há data definida para a mudança, mas a gerente explica que a ideia é criar intercâmbios interativos com outras áreas culturais e educativas. 

Outra proposta é levar as discussões e adequações museológicas de 2019 para um espaço criado na primeira metade do século 20. A acessibilidade é um dos pontos de ação. Com dois pisos acessados por uma escadaria, não há um manejo técnico para cadeirantes, a exemplo de elevadores. “Já estamos providenciando rampas de acesso das portas laterais do prédio, mas o andar de cima ainda é um desafio que teremos de solucionar”, afirma a profissional. 

Localização

Expediente

Edição Multiplataforma
 Rodrigo Alves

Reportagem
Clenon Ferreira e Carmem Curti

Edição de fotografia
Weimer Carvalho

Arte
André Luiz Rodrigues

Design
Marco Aurélio Soares
Share by: