Louvor fora da romaria

Louvor fora da romaria

Na igreja lotada de fieis, boa parte deles segurando folhas de palmeiras, não há mais lugar para se sentar. Mariana Cândida de Jesus, 68 anos, e sua cunhada Maria Cândida de Araújo, 76, ficam de pé em um dos corredores do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade. É a Missa de Ramos, uma das celebrações mais concorridas do período que antecede a grande romaria que vai começar em junho. Mas ali, antes da Páscoa, já é possível ter uma espécie de prévia da fé e do movimento de pessoas que invadirá Trindade durante os dez dias da principal festa.

Em datas significativas do catolicismo, mas que estão fora do período da romaria, Trindade recebe, sobretudo, pessoas das redondezas que querem fugir do tumulto, pessoas que desejam praticar sua devoção com mais tranquilidade. É o caso de Mariana, uma assídua frequentadora da cidade, mas que quase nunca vai no auge da festa. “A gente vem de carro e chegamos um pouco antes para evitar aquele tumulto. Tenho problema de coração e não posso ficar em aglomeração”, explica. “Venho uma vez por mês para agradecer uma graça. Agora eu trago a família.”

Mariana e Maria Cândida integram aquele contingente de visitantes que não deixa Trindade ficar totalmente parada fora do ápice das homenagens ao Divino Pai Eterno. São pessoas que chegam à cidade em caravanas ou isoladamente sobretudo em alguns finais de semana, principalmente naqueles em que há dias santos para os católicos sendo comemorados. No restante do tempo, as igrejas permanecem abertas, mas exceto o pessoal da manutenção, não há quase ninguém fora dos horários de missas. Momento usado para fazer reparos e providenciar faxinas.

Nas barraquinhas em torno do Santuário Basílica também há calmaria nos dias da semana e agitação nas comemorações. No Domingo de Ramos, a cidade voltou suas atenções para o que o Divino Pai Eterno mobiliza. O comércio abre as portas, camelôs encontraram um cantinho para oferecer seus produtos, o pipoqueiro Iron Elias reforçou seu estoque no carrinho que há cinco anos estaciona na frente do templo antigo. “Moro em Aragoiânia, mas sou devoto do Pai Eterno desde pequeno”, assegura. “No final de maio, eu já começo a encomendar mais produtos para vender.”

Iron adquire mais milho de pipoca, óleo e sal. Quem atua no segmento dos carros de som começa a ver sua rotina mudada um pouco antes. Na Procissão de Ramos, um deles repercutia, em alto volume, a voz do sacerdote pelas ruas de Trindade, no trajeto entre a Igreja Matriz do Divino Pai Eterno, o mais antigo dedicado à devoção, e o Santuário Basílica. E nos dias da festa, distribuem caixas de som no entorno do templo maior para que todos possam acompanhar as missas, em especial a que encerra a romaria, que é celebrada a céu aberto.

Três sacerdotes lideraram a Procissão de Ramos, ao lado de centenas de devotos, em direção a um templo lotado com cerca de 2 mil pessoas. Outros três padres aguardam no altar principal e o andor surge na nave principal sob o movimento dos ramos, simbolizando a entrada festiva de Jesus em Jerusalém, cinco dias antes de sua crucificação. Tudo transmitido pela TV Pai Eterno, pertencente ao Santuário, e registrado por incontáveis aparelhos celulares. Senhoras debulham contas de rosários, senhores tiram seus chapéus e os cantos ecoam em louvor, para o mundo inteiro ver.

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Expediente

Edição Multiplataforma
Silvana Bittencout, Fabrício Cardoso, Rodrigo Alves e Michel Victor Queiroz

Reportagem
Rogério Borges

Edição de fotografia
Weimer Carvalho

Arte
André Luiz Rodrigues

Design
Marco Aurélio Soares

Audiovisual
Carmem Curti
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