O padre que não para

O padre que não para

João Bosco de Deus está agitado, atento aos detalhes, anda depressa de um lado para o outro. João Bosco de Deus cumprimenta as pessoas afetuosamente, brinca com um conhecido ou auxiliar, devolve com sorrisos os sorrisos que recebe. João Bosco de Deus dá instruções, projeta o vozeirão quando fala com uma plateia maior, mas encontra um tempinho para uma pausa para o lanche. João Bosco de Deus mal pode esperar a festa de Trindade começar. “Se eu estou com frio na barriga? Estou sim. Aliás, estou com friozão na barriga”, admite, aos risos, João Bosco de Deus.

Aos 43 anos de idade, o padre João Bosco de Deus tem pela frente o maior desafio de sua vida eclesiástica. Há cinco meses como titular do Santuário Matriz de Trindade, ele é um dos responsáveis por boa parte da programação religiosa da romaria, coordenando os trabalhos na igreja mais antiga da capital da fé. “Fui criado em Trindade, minha mãe era muito devota do Divino Pai Eterno e meu sonho era poder participar da festa desta maneira. Estou muito feliz com essa nova missão”, assume o religioso, no atual posto há apenas cinco meses.

O período curto não foi impedimento para que ele conquistasse a simpatia de quem, há muitos anos, trabalha em prol da Festa do Divino Pai Eterno. Padre João Bosco transita com desenvoltura em meio aos voluntários, conhece muitos dos devotos que encontra na rua e esbanja simpatia. “Nós, aqui, lidamos com públicos muito diferentes. Você não pode ser um cara fechadão, isso não funciona bem. Você precisa estar aberto, falar de maneira a aproximar as pessoas, fazer com que todos entendam sua mensagem. Eu aprendi a me adaptar às diferentes linguagens que encontro.”

Na casa paroquial, na praça onde também fica o Santuário Matriz, ele repassa, em um curso preparatório, as orientações com os novos ministros da eucaristia. Depois, vai dar um abraço nas quitandeiras responsáveis pelo lanche das mais de 150 pessoas que reservaram uma tarde de sábado para se prepararem para a romaria. Em seguida, sai à rua, onde encontra dois meninos vendendo bombons – o repórter ganhou dois deles, pagos pelo pároco; “obrigado, padre” – e faz festa com a moça que vende pamonha num banco ali próximo.

Alegria e disposição ele já tem, mas o que mais Padre João Bosco pede a Deus nos dias que antecedem a romaria? “Eu peço serenidade e paciência”, responde. Não pede força, padre? “Melhor não”, gargalha. Trabalho para ser feito, com serenidade e paciência, não falta. “Agora, nas duas últimas semanas antes da festa, eu tenho que estar à frente de todos. Para garantir comida a todo esse povo que trabalha conosco, para o pessoal que vem de outras paróquias, vamos matar 8 vacas, 20 porcos, mais de 200 frangos. Tudo doação. E eu tenho que ajudar a cuidar disso também.”

E, claro, cumprir as obrigações dos padres na gigantesca celebração. “Eu acordo às 5 horas da manhã e vou dormir depois das 11 da noite. São missas, novenas, confissões durante todo o dia. Isso sem contar que, durante a romaria, fazemos reuniões diárias com todos os envolvidos, como Prefeitura, Polícia Militar, Bombeiros para planejar as ações e corrigir o que porventura não tenha corrido direito no dia anterior.” E lá vai João Bosco de Deus novamente, atento aos detalhes, andando depressa de um lado para o outro, devolvendo com sorrisos os sorrisos que recebe.

Voltar

Expediente

Edição Multiplataforma
Silvana Bittencout, Fabrício Cardoso, Rodrigo Alves e Michel Victor Queiroz

Reportagem
Rogério Borges

Edição de fotografia
Weimer Carvalho

Arte
André Luiz Rodrigues

Design
Marco Aurélio Soares

Audiovisual
Carmem Curti
Share by: