Reservas com um ano de antecedência

Reservas com um ano de antecedência

O portal na entrada da cidade, em que uma grande imagem do Divino Pai Eterno dá as boas-vindas, marca o fim de muitos sacrifícios. Ao cruzarem por ele, romeiros de todo o Brasil se sentem realizados por terminar peregrinações de todas as extensões. A mais comum delas é a composta pelos 18 km que separam Trindade de Goiânia, mas há outras bem mais longas. Do rol de entrada de um grande hotel ali ao lado, a gestora do local pode observar o movimento em uma posição privilegiada. Afinal, Marilene Batista Alves organiza todo seu trabalho a partir desse fluxo.

No Hotel Liguori – homenagem dos redentoristas, administradores do empreendimento, a Santo Afonso de Ligório, fundador da ordem religiosa que responde pelos santuários do Divino Pai Eterno –, 17 funcionários dão conta do movimento habitual e, claro, dos preparativos para os 10 dias da romaria. “Nós estamos no terceiro ano com mesma equipe e todos já estão acostumados ao trabalho”, afirma a gestora Marilene. “Nós temos 100 apartamentos e podemos atender até 380 hóspedes. Para o período da festa, lotação completa, desde o ano passado.”

Sim, é isso mesmo. Segundo Marilene, os quartos ficam reservados com um ano de antecedência. “O pessoal sai do hotel no final da festa e já deixa as reservas para a festa seguinte. E olha que trabalhamos, neste período, com pagamento adiantado.” Segundo ela, a maior procura ocorre no segundo final de semana da romaria. “Facilita o fato de estarmos bem localizados. Estamos na entrada da cidade, não é tão longe da Basílica e quando a nova igreja ficar pronta, seremos o hotel mais próximo dela”, afirma, apontando a obra da Nova Basílica Santuário do Divino Pai Eterno.

Antes de a romaria começar, uma operação complexa é posta em funcionamento. Um reservatório com 192 mil litros de água é providenciado. “Água não pode faltar de jeito nenhum para nossos hóspedes”, ressalta Marilene. Um gerador de alta potência também é ligado. Tapetes antiderrapantes nos quartos e banheiros – “afinal, 60% de nossos hóspedes são idosos” – e um estoque extra de lençóis, toalhas e cobertores é disponibilizado. “Não podemos depender tanto da lavanderia.” Até mesmo o trânsito nas imediações do hotel é mudado e uma equipe extra de segurança é contratada.

Janaína de Souza Martins, incumbida das reservas e eventos do hotel, diz que Trindade tem se profissionalizado no setor de hospedagens. “Temos um movimento muito bom hoje, e não só durante a festa. Muitas pessoas vêm à cidade durante todo o ano para assistir as misas do padre Robson”, aponta, citando o sacerdote que agora é reitor do Santuário do Divino Pai Eterno. Formada em hotelaria, Janaína destaca cursos na área e maior incentivo do poder público para o setor como pontos positivos. “Está ficando mais profissionalizado”, elogia.

Dono da Pousada Santíssima Trindade, Kélder Gomes Pinto, após viver por 14 anos nos Estados Unidos, decidiu voltar e investir na capital da fé no Centro-Oeste. E o auge, claro, são os últimos três dias de romaria, período para o qual as vagas foram todas preenchidas ainda no ano passado. “Temos clientes que pagam a hospedagem do ano seguinte assim que acaba a festa”, relata. Ele também precisa se precaver para que o atendimento esteja a contento. “Nos seis anos que estou em Trindade trabalhando no ramo, já aprendi como deve ser feito.”

Se nos domingos fora dos dias de pico o empresário sai pela cidade convidando os visitantes que encontra para experimentar o cardápio do restaurante que administra juntamente com a pousada, na época da romaria é necessário tomar providências antecipando o grande movimento. “Eu coloco seis freezers para funcionar, cada um com um tipo de carne. Os fornecedores já sabem o que eu preciso. Os caminhões de bebida também passam antes, porque nos dias finais da festa não há quem consiga circular por aqui. Até segurança eu contrato para os ônibus dos romeiros”, descreve.

O mesmo sistema especial é adotado pela maior parte dos comerciantes da cidade. Na loja de bolos perto da Matriz, a produção se multiplica nos dias da romaria em relação ao restante do ano. Casas são transformadas em pontos de hospedagem temporária. Lotes baldios são alugados para vendedores de mercadorias, em geral, religiosas. Pequenos restaurantes e lanchonetes brotam nos quintais de várias residências. No ano passado, a Prefeitura de Trindade fiscalizou quase 12 mil estabelecimentos e emitiu 4 mil alvarás de funcionamento. Neste ano, o número será semelhante.

Ações tentam disciplinar esse comércio. Alguns anos atrás, o Santuário Basílica definiu um perímetro em torno da igreja em que era proibida a presença de ambulantes, mas as dependências dos templos em que ocorrem as celebrações também sentem esse impulso pela compra de artigos religiosos. Terços e medalhinhas são as mais comercializadas nas lojinhas da igreja, porém outros artigos encontram ótima saída. A livraria do Santuário passou a receber Bíblias com a imagem do Divino Pai Eterno na capa. E as encomendas foram feitas com meses de antecedência.

Expediente

Edição Multiplataforma
Silvana Bittencout, Fabrício Cardoso, Rodrigo Alves e Michel Victor Queiroz

Reportagem
Rogério Borges

Edição de fotografia
Weimer Carvalho

Arte
André Luiz Rodrigues

Design
Marco Aurélio Soares

Audiovisual
Carmem Curti
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