Denúncias vêm à tona

Em ‘Conversa com Bial’, mulheres relatam como foram abusadas por João de Deus 

08/12/2018 

Dez vítimas fizeram as denúncias, que foram ao ar na televisão na noite da última sexta-feira (07)
O programa 'Conversa com Bial', da TV Globo, exibiu no início da madrugada deste sábado, 8, depoimentos de mulheres que denunciam João Teixeira de Faria, o João de Deus, de abuso sexual. De acordo com elas, os casos teriam acontecido no local onde o médium realiza seus atendimentos espirituais, na cidade de Abadiânia, interior de Goiás. Em nota, João de Deus rechaçou "veementemente" as acusações.

"Ele me pediu para ficar de costas e começou a passar a mão pelo meu corpo. Eu fiquei incomodada e pensei: até que ponto você pode deixar um médium passar a mão pelo seu corpo?", disse uma das entrevistadas, cuja identidade foi mantida em anonimato.

No total, foram ouvidas 10 pessoas que afirmam ter sofrido abusos de João de Deus. O programa, contudo, exibiu apenas quatro depoimentos - três deles sem a identificação das denunciantes. A coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, que esteve no local de atendimento do médium em 2014, foi a única entrevistada que aceitou se identificar. "Eu tinha medo de eles me mandarem espíritos ruins. Eu estava com muito medo. Agora me sinto protegida e sinto que a verdade tem de vir a tona", afirmou Zahira, que conversou com Pedro Bial nos estúdios do programa.

Nos relatos exibidos, as mulheres descreveram situações e métodos parecidos nos quais alegam terem sofrido os abusos.
"Ele pegava minha mão, pra eu pegar no pênis dele. E eu tirava a mão. E ele falava: 'você é forte, você é corajosa! O que você está fazendo tem um valor enorme'. Eu não estava fazendo nada, estava sendo abusada", disse uma das mulheres. "Ele ficou muito próximo e mandou eu colocar a mão pra trás. Isso ele já estava com o pênis dele para fora. Ele falou: 'põe a mão. Isso é limpeza. Você precisa da minha energia, que só vem dessa maneira, pra eu poder fazer a limpeza em você'", continuou.

João de Deus é um dos médiuns mais famosos do País e realiza, desde 1976, atendimentos e "cirurgias espirituais" na casa Dom Inácio Loyola, na pequena cidade de Abadiânia, em Goiás a 115 quilômetros de Brasília. O POPULAR entrevistou o médium em fevereiro de 2016. Veja a entrevista abaixo.
Mais denúncias após reportagens 
08/12/2018
Uma fisioterapeuta de 32 anos registrou ontem em uma delegacia de Goiânia que foi vítima de crime contra a dignidade sexual praticado por João de Deus. A vítima alega não se lembrar a data exata, mas acredita que tenha sido entre 2009 e 2011. O relato da mulher ao POPULAR segue a linha dos divulgados pelo grupo Globo, em reportagens da revista Época, o jornal O Globo e o programa de TV “Conversa com Bial”. Além da fisioterapeuta, uma mulher que chegou a trabalhar na Casa Dom Inácio também denunciou ter sofrido abusos. Ela procurou a TV Anhanguera e relatou seu caso à reportagem. Outra denúncia surgiu depois da divulgação do Programa Conversa com Bial, envolvendo uma mulher mineira, e foi revelado pelo Jornal O Globo.

Ao POPULAR, a fisioterapeuta contou que foi com seus pais à Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. Eles passaram por atendimento, momento em que a mulher foi separada do pai e da mãe, após a entrada. “Eles ficaram rezando em uns bancos, dentro de sala grande. Eu já fui separada. Aí veio um médium e falou que o João de Deus queria falar comigo pessoalmente.”
Embora tanto ela quanto o pai tivessem um problema na perna, os médiuns a abordaram ressaltando que ela teria algo especial. “Eu tive uma trombose na perna e meu pai tinha problema na perna. Aí falaram pra mim que ele (João de Deus) precisava conversar comigo porque eu era uma médium.”

O que ocorreu a partir dali é muito parecido com o que foi relatado nas entrevistas dadas ao jornalista Pedro Bial, da TV Globo. “Passou um pouco (de tempo) e essa mesma pessoa chegou e me levou para uma sala fechada, com duas janelas e porta de vidro (não transparente) no meio. Tinha muitos cristais, objetos religiosos, uma poltrona, e eu fiquei lá esperando ele. De repente ele apareceu, entrou e trancou a porta.”

O assédio teria começado ali. “Na lateral esquerda, tinha um corredor mais ou menos da largura de uma porta. Ele pegou, me chamou lá e começou a me dar passe. Só que eu comecei a ficar um pouco tonta e ele começou a passar a mão no meu seio esquerdo. Mas ele não pôs a mão no peito mesmo, só na parte de cima. No peito, sem colocar no mamilo. Aí ele começou a alisar, e eu achando aquilo muito estranho. E ele ficou frente a frente comigo, porque era estreito (o corredor) e ele é gordo. Ele pegou e começou a abrir o cinto e a calça. Aí ele pegou minha mão e perguntou: ‘Você tá sentindo?’, e eu disse: ‘Não’. Ele passava a minha mão na barriga dele, e eu ainda muito tonta. Ele foi descendo, descendo, e foi lá no ‘pipiu’ dele. Quando eu vi aquela situação, muito tonta, não sabendo muito o que estava acontecendo, pensei ‘não, isso está errado’, saí correndo, destranquei a porta e dei de cara com todo mundo lá fora. Então não pude dar alarde, sabe? Fechei a porta, encontrei meu pai e minha mãe.”

João de Deus, então, voltou a abordá-los, conforme relato da mulher. “Ele chamou a gente de volta (para a sala). E falou para minha mãe que eu precisava de tudo, trabalhar lá e tal. E eu dando sinais pra minha mãe que não ia trabalhar lá.” A mãe da vítima, de 58 anos, confirmou que o homem tentava convencê-los.

A vítima comenta ainda que não explicou totalmente o que havia ocorrido ali para os pais por medo da reação que o pai teria. “No que eu saí, puxei minha mãe, contei para ela, já sentei e chorei. Meu pai viu que tinha acontecido alguma coisa. Expliquei mais ou menos por cima para a minha mãe. Não deu para contar tudo, porque se contasse para o meu pai a situação, não daria certo.”

A mãe da vítima disse ao POPULAR que no dia do ocorrido viu que a filha saiu da sala de João de Deus muito nervosa. “Ela estava tremendo e chorando. Disse para ela ter cuidado, para que o pai dela não ouvisse. Fiquei com medo de ele fazer alguma coisa, porque era muito explosivo”, disse. A mulher afirma que o relato da filha na época é muito parecido com o contato pelas vítimas na Rede Globo.

A fisioterapeuta afirma que o ocorrido fez com que ela se afastasse da religião espírita por um tempo. “Parei de frequentar centro espírita uma época, porque fiquei em dúvida. Como alguém que se diz de Deus tá fazendo uma coisa dessas? Voltei a frequentar, mas bem esporádico. Antes eu ia, estudava... Mas eu fiquei meio assim. A religião é uma coisa, mas o que aconteceu (ali) é outra coisa.”

Dificuldade

O pai da mulher teve certeza do ocorrido depois de ver os relatos na Rede Globo. A mãe da vítima conta que a jovem ficou nervosa ao ver as entrevistas e contou ao pai. “Ele disse ‘chega. Não quero mais saber. É suficiente’”. Em seguida, disse à jovem para que fossem fazer uma denúncia na delegacia.

A fisioterapeuta comenta que teve coragem de fazer a denúncia agora para que fique registrado que ocorreram outros assédios.
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