Aniversário de 89 anos: Eu vejo Goiânia

Goiânia 89 anos: moradores contam como era a vida nos primeiros anos da capital e as mudanças ao longo das décadas

Confira fotos que mostram o antes e agora de pontos que refletem a história de Goiânia. 

Clenon Ferreira, O Popular 

“Goiânia não é ainda a guardiã das tradições históricas deste povo, mas é a vanguardeira da marcha para o Oeste”. A afirmação de Pedro Ludovico Teixeira estampada em uma capa do O Popular dos anos 1930 resume muito bem como a nova capital de Goiás havia sido desenhada para seus novos moradores. Quase nove décadas depois e a cidade de 1,5 milhão de habitantes pulsa em suas várias extremidades e arranha-céus enfileirados que não se cansam de crescer.


No aniversário de 89 anos desta jovem-senhora, a pergunta que se faz é: quem eram esses primeiros moradores que habitavam a cidade? O que eles faziam nas horas vagas? Quais eram os passeios, os pontos de encontro, as diversões, as modas da época? O que ditava o comportamento? Com apoio das fotografias de Hélio de Oliveira, fotógrafo inveterado que ajudou a documentar os primeiros anos da capital, conheça as histórias de quem viveu uma Goianinha de outros tempos.

O g1 Goiás e o O Popular publicam uma série de reportagens especiais sobre os 89 anos de Goiânia.



Goiânia 89 anos: A Praça Cívica e a primeira da fila

Praça Cívica, marco zero da capital (Wildes Barbosa/O Popular)

Marco zero de Goiânia, a Praça Doutor Pedro Ludovico foi criada para ser o ponto de encontro das principais avenidas da cidade, a Goiás, a Araguaia e a Tocantins


Tinha nascido o sol. Os primeiros raios que partiam do oriente e se desdobravam pelos não muitos prédios erguidos na então nova capital de Goiás criavam um jogo de luz e sombra pelas avenidas e ruas de uma cidade desenhada. Pouco a pouco, os moradores saíam de suas residências, muitas delas nas Ruas 20 e 24, além das Avenidas Araguaia e Tocantins. Com chapéus e sombrinhas, subiam todos em direção a Praça Cívica. Era 24 de outubro, dia de comemoração.


Mesmo já experiente em desfiles, Flávia Soares Faria Pereira da Silva, com seus pouco mais de 15 anos, ainda não conseguia controlar o frio na barriga antes dos cortejos tradicionais. As alunas que tirassem as maiores notas do Colégio Santo Agostinho conquistavam a fileira da frente, a mais disputada. A goiana era sempre a primeira a entrar, vestida com uniforme de gala usado apenas em eventos valorosos: 24 de outubro, no aniversário da cidade, ou no 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil.

“Me lembro como se fosse hoje dos detalhes bordados do uniforme, do barulho da fanfarra e das pessoas que se aglomeravam na Praça Cívica para ver o cortejo passar. Esperávamos o ano inteiro para aquilo”, recorda com afago dona Flávia, hoje com seus 92 anos.

A garota mais estudiosa do colégio veio de Corumbá de Goiás aos 13 anos. O gosto pela educação foi tamanho que, décadas depois, lecionou em diversas escolas da capital, como o Lyceu de Goiânia e o próprio Santo Agostinho. Formou-se em farmácia, em um momento em que as várias turmas do curso eram constituídas majoritariamente por homens.

“Estudava, trabalhava e ainda ajudava com os afazeres de casa. Fiz mais de 100 partos de nascidos em Goiânia”, conta.

Praça Cívica no ano de 1952 (Foto: Hélio de Oliveira)

As matinês do Jóquei Clube estavam entre os programas mais esperados por Flávia em seus tempos de juventude. Ao redor da piscina do point goianiense, ela e suas amigas não se cansavam de dançar os clássicos da época. “Modéstia à parte, eu era linda e chamava muito a atenção. Era tudo muito puro, não tinha maldade. Nos bailes de carnaval, todo mundo se fantasiava. Pura alegria”, recorda. Para muitas das moças da época, Elvis Presley era o galã inveterado, com brilhantina no topete e jaqueta de couro.


Dona Flávia sempre prestou muita atenção no Setor Oeste. Na época, a região onde está localizado o bairro era apenas cerrado alto sem ruas e trieiros. Anos depois, com as transformações urbanísticas de Goiânia, a farmacêutica acabou indo morar na região, lugar que habita até hoje. A saudade dos bailes do Jóquei e dos desfiles na Praça Cívica ainda fazem a jovem senhorinha lacrimejar.


“São tempos que não voltam. Sou mais velha até que a própria Goiânia, uma amiga querida que guardo para sempre comigo e desejo muito bem”, declara.


Goiânia 89 anos: a Avenida Goiás e as luzes da cidade

Marco zero de Goiânia, Praça Cívica abriga o Palácio das Esmeraldas e o Palácio Pedro Ludovico Teixeira (Foto: Wildes Barbosa/O Popular)

Não há uma vez sequer que Antônio Carlos Ribeiro de Souza, 81, caminhe pela Avenida Goiás e não se lembre com carinho dos tempos de bancário. Foi ali, na avenida com a Rua 1, que o goiano de Morrinhos fez carreira durante décadas na primeira agência do Banco do Brasil instalada na cidade.


Ode ao moderno e de frente para o futuro, a avenida mais luxuosa da cidade era um evento à parte: além de ligar o centro do poder político, a Praça Cívica, até a Estação Ferroviária, era cenário para o Coreto e a Torre do Relógio, percorria a Praça do Bandeirante e servia como vitrine para célebres edifícios de Goiânia, a exemplo da primeira redação do jornal O Popular e a Câmara Municipal.


Vindo aos 18 anos para estudar no Colégio Lyceu de Goiânia, Antônio percorria a cidade com sua vespa turbinada. Quando o sol baixava e as luzes incandescentes da capital ganhavam vida, o goiano saía com os amigos para as sessões perfumadas do Cine-Teatro Goiânia ou os famosos footings.

“Era assim: os homens ficavam passeando de um lado e as mulheres de outro. Hora ou outra alguém furava a fila e interagia com as moças. Era uma espécie de paquera”, conta.

Imagem da Avenida Goiás registrada em 1950 (Foto: Hélio de Oliveira)

Nas rádios, nas danceterias e nos bares, os jovens da época não se cansavam de ouvir repetidamente a canção Espútido Cupido, de Celly Campello, uma das rainhas da rádio. Os bailes e carnavais do Jóquei Club eram eventos cobiçados por todos. “Só entrava nas matinês dançantes do Jóquei quem era sócio. Uma vez, eu e meus amigos pulamos o muro para tentar entrar no baile. Fomos pegos. Tivemos que sair pela porta da frente escoltados pelos seguranças”, rememora Antônio.


Aos que não conseguiam entrar na pista de dança do Jóquei Clube, a cidade ainda apresentava opções de entretenimento únicas aos moradores. Próximo da Avenida Goiás, na Rua 6, por exemplo, o vai-e-vem dos jovens se resumia a dois atrativos em grande estilo: a boate Lisita e o bar Serra Dourada. “A boate Lisita era moderninha. Lembro que tinha um mecanismo manual que fazia com que o teto da boate se abrisse por inteiro. Dançávamos de olho nas estrelas”, recorda.


Seu Antônio nunca saiu do Centro. Com o passar dos anos, acompanhou as mudanças em Goiânia. “Foi tudo muito rápido. De repente e pronto, aquela cidade provinciana havia se tornado uma metrópole, com vários prédios e arranha-céus”, diz.


Quando fecha os olhos, o goiano ainda consegue se lembrar com apreço e brandura dos tempos de juventude que não voltam mais, das estrelas brilhando no céu da boate Lisita e das luzes dos postes da Avenida Goiás que iluminavam uma cidade que acabara de nascer.


Goiânia 89 anos: Av. Paranaíba e a cidade que habito

Avenida Goiás ainda passa por constantes modificações, como a incorporação do BRT (Foto: Diomício Gomes/O Popular)

Ao longo das últimas décadas, Centro de Goiânia viu o oásis da Avenida Paranaíba dar lugar Mercado Aberto e o antigo Mercado Central ser demolido para a construção do Parthenon Center


Casinhas de vários tamanhos e formas ocupavam a Avenida Paranaíba, uma das primeiras ruas desenhadas em Goiânia. Era ali que seu José Alves Ribeiro, hoje com 81 anos, viveu parte da infância e adolescência. Morava perto da rua 24 e, sempre que podia, subia até a Rua 4 para comer pastel e tomar caldo de cana no antigo Mercado Central. “Era uma espécie de shopping”, diz José.


Quem não viveu as primeiras décadas da capital e passa hoje pelo portentoso Parthenon Center, localizado na Rua 4, no Centro, nem imagina que ali abrigou o primeiro mercado público da cidade. Vendinhas de frutas da estação, legumes, verduras, carnes, pães e cereais recém-chegados de municípios do interior, além de bares, lanchonetes e pastelarias faziam do antigo Mercado um dos pontos de maior circulação dos moradores da nova capital.


“Dava de tudo, mas não era um espaço para encontros como o Café Central, que ficava logo ali acima da Anhanguera. O mercado servia para compras matinais, além de ter o pastel mais gostoso da cidade”, recorda. Com um grande quintal atrás de sua residência, seus vizinhos na Paranaíba comiam cocada e brincavam de pique-esconde.

“Eu me lembro que a avenida era toda constituída por grandes árvores que ocupavam parte da pista. Era um oásis nos tempos de calor”, revela.

Parte central da Paranaíba era constituída por grandes árvores, mas o antigo oásis passou por transformações e atualmente abriga Mercado Aberto de Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)

Já no Café Central, os homens de negócios, fazendeiros e bancários se reuniam para fazer tratos comerciais ao mesmo tempo que meninos engraxates lustravam as botinas e sapatos da época. Perto dali, na Praça do Bandeirante, o corre-corre de carros, bicicletas e vespas previa a desordem do trânsito que um dia seria instaurada na cidade.

“O que todo mundo dizia é que Goiânia era uma cidade de olho no futuro. Era tudo muito organizado. Todas as ruas tinham um porquê de serem o que eram”, explica José.

Ao longo das décadas, a cidade foi se transformando. As casinhas da Avenida Paranaíba deram lugar a grandes prédios residenciais, estacionamentos e postos de gasolina. Já o Mercado Municipal funcionou até 1975, quando foi demolido para dar lugar ao projeto modernista do Parthenon Center, assinado pelo arquiteto Antônio Lúcio Ferrari Pinheiro. Na época, foi apresentado como um dos símbolos do modernismo da década de 1970 e deveria incorporar ao seu programa as atividades de seu precursor, o que não ocorreu. Um outro mercado foi construído, hoje localizado na Rua 3.


“Foi um absurdo na época. Me lembro de ver vários moradores antigos da cidade, que viveram nos anos 1950, 1960 reclamarem da demolição. Com o passar dos anos, a memória foi esquecida”, lamenta José, que hoje mora em Sanclerlândia, município localizado a 136 km de Goiânia. “Por conta da idade, tem muito tempo que não vou ao Centro da capital. Da última vez que fui, passei na Av. Paranaíba em frente a minha antiga casa. Ela já não estava mais lá. Quanta saudade!”, dispara.

Parte central da Paranaíba era constituída por grandes árvores, mas o antigo oásis passou por transformações e atualmente abriga Mercado Aberto de Goiânia (Foto: Wildes Barbosa / O Popular)


Goiânia 89 anos: Praça Joaquim Lúcio, Campininha

Pôsteres do Atlético Clube Goianiense dos anos 1988 e 2014 decoram as paredes do Armazém Popular, um dos pontos mais antigos de Campinas. Ao lado deles, imagens da Virgem Maria evocam a fé e devoção de muitos moradores do bairro. Recortes de jornal e fotografias também chamam a atenção de quem passa pelo local. Aberto há mais de 60 anos, o mercadinho de seu Adão Batista Leite, 82, está localizado na Rua José Hermano, que liga as praças Matriz e Coronel Joaquim Lúcio.


“Quando eu cheguei em Campinas, a rua ainda era de terra. De longe dava para ver a Matriz e, mais ao fundo, a Praça Coronel Joaquim Lúcio, um dos lugares mais bonitos da Campininha”, relembra seu Adão, nascido em Avelinópolis, município a 75 km de Goiânia. Assim como inúmeros goianos do interior, veio para a nova capital tentar a sorte. Campinas parecia o bairro certo para criar os filhos e fazer a vida que tanto almejava.


A antiga Campininha das Flores é, de longe, o bairro mais antigo de Goiânia, até mesmo porque inicialmente se tratava de outro município. Surgiu em 1810, e, com o passar do tempo e a construção da nova capital, acabou incorporada à cidade em 1935, após decreto assinado por Pedro Ludovico Teixeira. Ao longo dos anos, transformou-se em um grande polo comercial, lugar de manifestações de fé e reduto do ensino e educação. Seu Adão acompanhou de perto as transformações. Ali, na Praça Joaquim Lúcio, passeou com os filhos, tomou sorvete com a esposa e viu as folias dos catireiros nos festejos anuais.

“A praça era muito mais linda. Parece que as pessoas se importavam mais com essa relação de afeto com a cidade. Campinas inteira era muito mais charmosa”, revela seu Adão.

Imagem da Praça Joaquim Lúcio registrada em 1967 (Foto: Hélio de Oliveira)

Nas primeiras décadas de Goiânia, para chegar até Campinas era preciso pegar as jardineiras, pequenos veículos que faziam o trajeto Goiânia-Campinas diariamente. Os irmãos Pedatella também eram conhecidos na região por percorrerem o itinerário pela Avenida Anhanguera. “Era uma carroceria de madeira com uma única porta para entrar e sair”, lembra.


Morador de carteirinha de Campinas, seu Adão visita diariamente a Igreja da Matriz para fazer suas rezas e participar das missas. Aos domingos, vai com os amigos no antigo estádio Antônio Accioly, campo do Atlético Clube Goianiense, primeiro time de futebol de Goiânia e um dos maiores orgulhos dos habitantes de Campinas. Em dias de jogos, o comerciante não se cansa de cantar o hino do time: “Somos do bairro de Campinas, bairro de luta e tradição, te juro que em todos os momentos, pra sempre contigo vou estar”. Adão repete a tradição há seis décadas.

Antigo hotel deu lugar a hospital na Praça Joaquim Lúcio, em Campinas (Foto: Diomício Gomes / O Popular)


Goiânia 89 anos: Lago das Rosas para quem não tem mar

Goiânia, 1954. Aguentar o calor dos meses de julho, agosto e setembro em plena sala de aula era tarefa árdua para os alunos do Colégio Professor José Carlos de Almeida. Para a turminha de Neuder Mota, o Dézinho, o segredo era pular o muro da escola, pegar as bicicletas e correr até o Lago das Rosas, uma das extremidades da nova capital.

“Era um verdadeiro refresco para as tardes ensolaradas. A criançada ocupava as muretas, pulava do trampolim, a água era limpa. Um verdadeiro oásis no meio do Cerradão”, lembra Dézinho, hoje com 81 anos.

Pela manhã, as mulheres desfilavam com seus maiôs pinups, a última moda vinda da até então capital federal, o Rio de Janeiro. “Havia uma praia para descansar. Os meninos ficavam assistindo ao desfile de beldades – tudo com muito respeito, é claro”, brinca o goiano pontalinense. Era no período da tarde que os “fugitivos” da escola ocupavam aos montes o lago. “Lembro que tomávamos banho pelados para não molharmos o uniforme. Certa vez, tivemos que voltar pelados para casa porque nossas roupas tinham sido roubadas”, rememora.


Nos anos 1940 e 1950, o Lago das Rosas era o último suspiro de Goiânia. De lá em diante só se via mata cortada por uma Avenida Anhanguera ainda de terra batida e, depois, mais ao longe, a Campininha das Flores. O local era um dos points mais visitados da época até o início dos anos 1960, quando a prefeitura resolveu proibir o banho público no lago. A justificativa era de que várias crianças se machucavam depois das estripulias no trampolim.


“Além do Lago, havia outras diversões da garotada. As corridas de bicicleta, moto e carro nas principais avenidas da cidade eram um evento a parte”, relembra Dézinho, amante de automóveis e que sempre participava das corridas nos eventos comemorativos do aniversário de Goiânia. “O circuito era sempre o mesmo: começava na Anhanguera, subia a Tocantins, ia até Praça Cívica e dava a volta na Araguaia. Todos os moradores da cidade se reuniam para acompanhar as corridas”, garante.

Crianças tomando banho no Lago das Rosas era cena comum na década de 1950 (Foto: Hélio de Oliveira)

Certa vez, Dézinho comprou um fusca verde azeitona de ninguém menos que Pedro Ludovico Teixeira, interventor de Goiás. Na época, a maioria dos moradores da cidade se locomovia em bicicletas e lambretas. Ter carro, mesmo que um fusca, era um luxo para poucos. “Doutor Pedro vivia passeando por aí em sua camionete. Era uma tradição vê-lo percorrer a cidade”, conta o goiano. A camionete está exposta ainda hoje no Museu Casa Pedro Ludovico Teixeira, antiga morada do governador responsável pela construção da nova capital.


Dézinho guarda no peito a saudade das tardes de sol no Lago das Rosas e das corridas na Avenida Araguaia. Na garagem de sua casa, no Jardim América, carros, motos e camionetes antigas ainda servem como um lugar de refúgio das lembranças de uma outra Goiânia.

“A maioria dos meus amigos já faleceu, outros se mudaram da cidade e alguns eu até perdi o contato. O que fica na memória mesmo são as aventuras de criança, o cheiro do asfalto queimado pelos carros de corrida e a sensação do coração batendo forte depois do salto mortal no trampolim do lago”, diz.

Lago das Rosas atualmente, em Goiânia (Foto: Diomício Gomes / O Popular


Goiânia 89 anos: No escurinho do Cine-teatro Goiânia

Cinturinha marcada e saia rodada até os tornozelos, sapato de salto nem tão alto, luvas e joias. Aos homens, blazers muito bem engomados e chapéu de feltro. Para adentrar ao luxuoso Cine-Teatro Goiânia, o edifício mais imponente das décadas de 1940 e 1950 da capital, era fundamental estar vestido a rigor para as matinês e sessões perfumadas que tomavam conta dos finais de semana da cidade.


Com pouco mais de 19 anos, a portuguesa Maria do Carmo não perdia uma sessão de cinema de clássicos da Hollywood de Ouro. Morava ali na Avenida Paranaíba, rua habitada por casarões estilosos que cortavam as principais avenidas da cidade - Araguaia, Goiás e Tocantins - e dividia o Centro com o Bairro Popular. Encontrava sempre as amigas perto da Paróquia Imaculado Coração de Maria e, juntas, subiam até o Cine-Teatro, um dos programas mais divertidos entre os jovens da época.

“Todo mundo se arrumava, colocava a melhor roupa. Os homens só entravam de paletó. Lembro que ficávamos impressionados com os filmes na tela grande. Eu amava”, lembra dona Maria, hoje com 90 anos.

A trajetória da portuguesa daria um filme daqueles: chegou ao Brasil de navio no início da década de 1950. Morou em São Paulo e, depois, foi parar com a família em Pires do Rio. Depois de três anos de muito trabalho, foram tentar a vida na então nova capital de Goiás. Chegou em Goiânia dentro de uma Maria Fumaça, na Estação Ferroviária - hoje Antiga Estação.


O Crepúsculo dos Deuses (1950), Serenata à Chuva (1952) e Fúria de Viver (1955) eram exibidos incansavelmente no Cine-Teatro Goiânia e em outras salas da cidade. Existiam, por exemplo, o Cine Casablanca, hoje uma igreja na Rua 8, o Cine Santa Maria, na Rua 24, e, mais tarde, o Cine Capri, na Avenida Anhanguera.

“Era o que havia de melhor na época. Todo mundo se conhecia e andava nas calçadas durante a noite, sem medo ou receio. Não tinha ladrão, a gente dormia de porta aberta”, rememora.

Vista do então Cine-teatro Goiânia registrada em 1953 (Foto: Hélio de Oliveira)

Os dramas radiofônicos chamados de rádios-teatros também faziam a programação das tardes ensolaradas de Maria. Na Rádio Brasil Central, localizada na Praça do Bandeirante, entre as Avenidas Goiás e Anhanguera, a portuguesa ficava horas e horas vendo locutoras, atrizes e cantores saírem após o expediente.


“Tudo era muito mais bonito, mais charmoso. Ninguém mexia com as moças. Ficávamos na sorveteria da Anhanguera em conversas que duravam horas”, conta.


Com o passar do tempo, Maria foi acompanhando o crescimento da cidade: do Centro, se mudou com a família para o Bairro Popular. Depois, foi parar no Setor Aeroporto. Hoje, a dona Maria mora no Jardim Goiás. Para ela, Goiânia sempre será uma ótima cidade para se habitar. “É melhor que São Paulo, se você quer saber”, adianta. A portuguesa, que jamais voltou para Lisboa, sua cidade natal, diz que olha para frente, sempre. “Goiânia é uma cidade bacana, maravilhosa. Não posso reclamar. Tudo que preciso existe aqui. E o passado passou”, reitera.

Teatro Goiânia é figura imponente no cruzamento das avenidas Tocantins e Anhanguera (Foto: Diomício Gomes/O Popular)


Expediente

Edição Multiplataforma

Elisângela Nascimento, Millena Barbosa, Paula Resende e Pedro Nunes


Reportagem

Augusto Sobrinho, Danielle Oliveira, Giovanna Campos, Jamyle Amory, Kariny Bianca, Leicilane Tomazine, Michel Gomes, Thauany Melo, Ton Paulo, Vanessa Chaves, Victoria Lacerda, Vinícius Silva e Vitor Santana

Design

Marco Aurélio Soares


Audiovisual

Vitor Santana e Michel Gomes


Arte

Patrick Guimarães e Ricardo Machado


Imagens de apoio

Zé Washington e Diomício Gomes



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