Capital dos bares - Goiânia 89 anos

'Capital dos bares', Goiânia reúne cerca de 20 mil botecos; conheça os mais antigos

Estabelecimentos movimentam mais de R$ 55 milhões por mês e empregam 8 mil pessoas. Alguns bares têm mais de 50 anos de história.

Por Thauany Melo e Michel Gomes, g1 Goiás

Considerada "capital dos bares" pelos goianienses, Goiânia reúne cerca de  20 mil botecos, sendo que alguns já têm mais de 50 anos de história. Entre os fregueses é consenso: os bares refletem a cara e o gosto dos moradores, que seguem à risca o ditado "já que não tem mar, vamos para o bar". Para quem gosta de apreciar drinks, cervejas e petiscos, confira abaixo um roteiro com os bares mais antigos de Goiânia.


Para celebrar o aniversário de 89 da capital, o g1 Goiás e o O Popular publicam uma série de reportagens especiais sobre a cidade. 


De acordo com o Sindicato de Bares e Restaurantes de Goiânia (Sindbares), dos cerca de 20 mil bares, 460 são associados e movimentam cerca de R$ 55 milhões por mês, empregando 8 mil pessoas. 


O sindicato informou que não há dados oficiais que confirmem o posto de "capital dos bares" a Goiânia, no entanto, os goinienses já se apropriaram do título.  "Goiânia é a cidade dos bares", decretou José Alfredo Miguel, dono do Bar Dodô, um dos mais antigos da capital. 


A maioria abre quase todos os dias da semana, mas é de sexta-feira a domingo que os bares ficam lotados. E são as mesas espalhadas pelas calçadas que  são as mais disputadas, conforme conta o dono do Paim, Luciano Paim.

“Pelo clima quente, o povo de Goiânia gosta de se sentar nas mesas da calçada. Eles se sentam primeiro lá fora e só depois vêm para dentro. Tem também a sensação de liberdade”, conta o empresário.



Bar Dodô (1967)

Bar Dodô, fundado em 1967, recebe até 400 pessoas por dia. Foto: Michel Gomes/g1 Goiás

José Alfredo Miguel, de 58 anos, é goianiense e contou que toca o bar, fundado pelo pai dele em 1967, há 34 anos. Segundo ele, a casa recebe 300 até 400 pessoas por dia.


José Alfredo Miguel contou que quando começou o negócio se deparou com uma cidade ainda em construção. Na época, a recente capital de Goiás ainda tomava forma.


“Aqui [no setor ferroviário] era um conjunto. Poucas casas, ruas de chão, água de cisterna e muita poeira”, disse José Alfredo



A esposa de José Alfredo, Rosana Miguel, de 54 anos, disse que ajuda o marido nos negócios há cerca de 30 anos, quando as crianças ainda eram pequenas e que de lá para cá as coisas mudaram na cidade, no trabalho e na freguesia.


“Quando eu vim era um bar frequentado mais por homens. Não tinha mulheres, os cozinheiros eram homens. Tive que me adaptar a tudo isso. Hoje está com uma casa diversificada, metade homem e metade mulher”, contou. 

Serviço

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira das, das 16h a 0h e sábado das 12h a 0h

Localização: Rua 141, lote 86, Setor Marista.

Telefone: (62) 99954-5499



Jajá Drinks (1971)

Dono do Jajá Drinks, Jair Prado diz que local toca diversos estilos musicais. Foto: Michel Gomes/ g1 Goiás.

Jair Prado, o “Jajá”, tem 70 anos e veio para Goiânia em 1971, quando abriu o bar que leva o próprio nome. Fiel ao Mercado da 74, onde esteve desde o início, Jair acompanhou grandes mudanças na cidade e passou por momentos difíceis, como o fechamento após o acidente com o césio-137 e a pandemia de Covid-19.

“Aqui na 74, na época os táxis eram charretes. Hoje em dia não se vê isso. O tempo girou, veio a internet. O digital que manda”, afirmou. 

Ele conta que se adaptou à era digital e até atraiu o público mais jovem. 

“Eu tenho muitos jovens, estudantes universitários. Eu interagi com eles e hoje eles me dão sustentação”, contou. 

Para acompanhar os drinks, Jajá destacou os discos de carne e a Almôndega da Vovó, prato inspirado na cozinha da avó dele.


Já na música, ele afirmou que coloca de tudo: “Na terça-feira é pop rock e MPB, na quarta é samba, na quinta-feira é rock e pop rock, na sexta é sertanejo e forró e no sábado é pop rock, samba ou MPB e no domingo geralmente é samba”, elencou. “Aqui é terra de todos os segmentos”, completou.


Serviço

Horário de funcionamento: 18 às 22h, todos os dias (conferir funcionamento aos sábados)

Localização: R. 74, 329 - St. Central, Goiânia - GO, 74045-020

Telefone: (62) 98534-9326.


Buteko do Chaguinha (1972)

Buteko do Chaguinha serve rabada ao som de música sertaneja. Foto: Thauany Melo/ g1 Goiás.

Segundo o dono do bar, Francisco Chagas, de 77 anos, o local é um ambiente familiar e, por isso, as regras estão expostas nas placas: “Proibido cenas amorosas” e “Bar de família”. Para receber as pessoas com filhos, o ambiente conta com uma brinquedoteca.


Nas paredes, são exibidas fotos com diversas pessoas que já passaram pelo bar, como o cantor Sérgio Reis. Para combinar, a trilha sonora varia entre o “modão” e o sertanejo universitário.


Já comida fica por conta de pratos como picanha e rabada, que remete a cultura nordestina do dono, assim como os quadros e outros detalhes do ambiente. Já a bebida varia de vinho a cerveja.

“Eu fui um dos primeiros da cidade, sou um dos mais antigos. Vi a cidade pequena crescer”, relembrou Francisco Chagas, o "Chaguinha".

Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 17h às 23h.

Localização: Rua C-155, 343, Jardim América

Telefone: (62) 3252-1716.


Breguella's (1978)

Breguella's atrai público jovem de Goiânia. Foto: Thauany Melo/g1 Goiás.

Tocando o Breguella's há 37 anos, Samuel Santos de Sousa faz questão de dizer que “o tempo passa e os bares ficam”. Ele explicou que o nome do local foi uma referência ao apelido do primo dele, também chamado Samuel, que fundou o estabelecimento. “Ele fala para a gente que esse apelido é coisa de escola mesmo, nem ele sabe a origem”, contou.


De Minas Gerais, o empresário de 56 anos disse que foi atraído pela capital. “Espírito alegre, receptividade, calor humano. Isso para nós foi o que conquistou e o que conquista nosso público”, destacou.


Samuel explicou que o irmão e o primo dele vieram de Minas Gerais para estudar e acabaram montando o bar e, mais tarde, ele entrou no grupo. Com música ao vivo e Djs, a casa desde o início atendeu um público mais jovem, sobretudo estudantes.

“Com o tempo passou a atender famílias, as pessoas que trabalham aqui em volta foram vindo com as famílias. Mas de uns 4 ou 5 anos para cá voltou a atrair mais os jovens”, disse.

A comida fica por conta dos petiscos. “Carne de lata, aquela que fica na banha, torresmo e almôndegas”, citou Samuel. Além disso, ele destacou, que “cerveja gelada, bom atendimento e um tira-gosto” completam a alma do bar.


Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 16h à 1h30. Sábado de 9h às 20h.

Localização: Ruas 134, 26000, Setor Oeste


Piry Bar (1978)

Piry Bar traz um pouco do nordeste para Goiânia. Foto: Thauany Melo/g1 Goiás.

Um toque nordestino no meio de Goiânia, o Piry Bar traz um pouco dos dois mundos. Dono do local, o goianiense Danilo Ramos, de 38 anos, conta que o pai e o tio dele vieram do nordeste para a capital de Goiás e fundaram o bar em 1978. “Eles juntaram as economias e montaram um comércio aqui, quando aqui não tinha nem asfalto”, contou.


Danilo lembra que os nordestinos compõem a história da capital. “O nordestino faz parte da construção de Goiânia e acaba que a cultura do sertanejo goiano parece a cultura do sertanejo nordestino, que é a cultura do extrativismo, da sobrevivência por meio da criação, da natureza”, afirmou.


Ele contou que o pequi, patrimônio goiano, também é muito comum no nordeste, onde fazem pratos doces com o fruto.


O bar, que recebeu o nome em referência à cidade piauiense Piripiri, oferece caldos e pratos tradicionais nordestinos, como a rabada, a língua, o sarapatel e o mocotó. “A casa tem a característica de valorizar a cultura nordestina, não só na gastronomia, mas também na música e na arte. Todo último domingo do mês acontece uma roda de forró", disse Danilo.

“Quando a pessoa estiver para Goiânia e quiser ter contato com a cultura nordestina pode vir no Piry”, completou o dono.

Serviço

Horário de funcionamento: de domingo a domingo, de 11h à 0h

Localização: Avenida C-1, 510, Jardim América

Telefone: (62) 3251-5697


Mangueiras (1986)

Mangueiras exibe jogos de futebol. Foto: Thauany Melo/g1 Goiás.

Um pé de manga plantado na porta do antigo endereço, no cruzamento entre T-1 e T-53, inspirou o nome do bar. Hoje, no Setor Oeste, o local conta com telhas de barro e mesinhas pretas na calçada, além de telões e televisões que exibem jogos de futebol.


A música fica por conta da clientela, que pode escolher os clipes exibidos entre os 3 mil títulos dispostos. Segundo a equipe, o bom humor dos funcionários é a marca registrada.


O cardápio inclui petiscos e pratos à la carte, mas as carnes serenadas angus são o carro chefe da casa. Além disso, para acompanhar os chopes, os clientes podem escolher entre tiras de carne, purê de banana da terra com creme de queijo e espetinhos.


O local também possui uma brinquedoteca, onde são oferecidas brincadeiras e serviço de babá exclusiva.


Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 17h às 23h.

Localização: Rua R-11, 895, esquina com a Rua João de Abreu, Setor Oeste

Telefone: (62) 99176-0784


Paim Grill (1986)

Paim Grill serve carnes feitas na brasa ao som de música sertaneja. Thauany Melo/g1 Goiás.

O bar, que começou como uma frutaria, conta com música ao vivo, cervejas e carnes na brasa. O dono do local, Luciano Paim, de 47 anos, contou que o negócio foi criado pelo pai dele, Irani Paim, em 1986.

“Ele começou a fazer carne aqui e virou um sucesso. A frutaria foi diminuindo e o bar foi aumentando, em 1986 começou a ser bar mesmo. Com o tempo fui renovando aqui”, contou Luciano.

“Fomos um dos primeiros bares da cidade a servir o que hoje chamam de panelinha”, completou.

Luciano conta que as carnes na brasa são os principais pedidos da casa e que o sertanejo domina o som do bar, mas que o local não deixa de tocar outros ritmos.


Ele ressaltou que os clientes gostam de sentar na calçada, comer espetinho na porta e do ambiente de descontração ofertado.


Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sábado, das 11h à 0h, e no domingo das 11h ás 18h.

Localização: Alameda Ricardo Paranhos, 25, Setor Marista

Telefone: (62) 3241-3166



Cantinho Frio (1988)

Cantinho Frio serve caldos, cervejas e atrai famílias de Goiânia. Foto: Thauany Melo/g1 Goiás.

Pensado para ser uma sorveteria, o que deu origem ao nome "Cantinho Frio", o bar se destaca pelos caldos e pela cerveja que, segundo o proprietário Leovaldo Mendes de Azevedo, é servida do jeito goiano: extremamente gelada.


Para o dono do local, a comida, para agradar o público, precisa ser servida com o tempero e a quantidade que a cultura pede. 

“O tempero do goiano é diferente, é um prato que você enche a boca. Os pratos são muito bem servidos”, destacou.

Aos 57 anos, Leovaldo conta que Goiânia é uma cidade propícia para se ter um bar e que ele faz questão de trazer a personalidade da cidade para o Cantinho Frio. Quando ele chegou na capital, na década de 70, percebeu a potencialidade dao lugar.


“Goiânia naquela época, apesar de capital, tinha um estilo interiorano e mantém isso. Ela consegue crescer e consegue expandir, pessoas vêm de todos os cantos do país, mas quando aconchega aqui, ela adquire esse estilo goiano. A gente consegue trazer isso [para o Cantinho Frio]”, contou.


Um homem ligado à família, Leovaldo afirmou que acredita que o bar tem a cara dele e atrai um público que se identifica com isso. “O bar tem que ter a nossa cara e aqui é muito família. O ambiente quem faz é as pessoas que frequentam. Nosso ambiente é frequentado por pessoas de alto-astral, de coração bom e receptivos”, destacou.


Para ele, o bar é um ambiente de socialização, de conversas e encontros, sem a necessidade de passar dos limites. “O bar goianiense é um ambiente para ser descontraído. Eu falo que a cervejinha de hoje é o cafezinho de outros tempos”, brincou.


O espaço conta com brinquedotecas, adega, espaços com objetos retrôs para ser alugado para festas e, é claro, uma ampla calçada.


Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 11h às 14h e das 16h a 0h. Sábado de 11h à 0h e domingo, de 11h às 13h.

Localização: Rua 228, 53, Setor Leste Universitário

Telefone: (62) 3215-3043


Tainá-kan (1989)

Tainá-kan recebeu nome em homenagem a esposa do primeiro proprietário. Foto: Thauany Melo/g1 Goiás.

Maurosan Gomes dos Santos, de 56 anos, conta que ama estar no meio do povo e ver o seu bar, Tainá-kan, sempre cheio. Apesar de ter começado a sociedade no bar em 1989, a história começou em 1986, com outro proprietário, que nomeou o local por causa do nome da esposa, que remetia ao significado estrela d'alva.

“A mulher dele chama Dalva e Tainá-Kan é indígena, tupi-guarani, significa estrela maior”, explicou.

Desde a década de 80, Maurosan conta que a cidade cresceu e que ele viu as estradas de terra se transformarem em avenidas. “Mudou muito a estrutura da cidade e o viver”, ressaltou.


Ele lembra que no início do seu negócio, sem cartões de crédito, as "compras fiadas" eram feitas por fichas e hoje as compras são praticamente todas digitalizadas.


O bar acomoda 280 pessoas e, segundo o dono, recebe 350 pessoas diariamente. “Hoje vem os filhos do povo que vinha aqui antigamente”, relembrou.


O cardápio inclui espetinhos, carne grelhada e petiscos diversos.


Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 17h à 1h.. Sábado de 11h à 0h.

Localização: Avenida T-1, 1286 - St. Bueno

Telefone: (62) 99974-0058



Celsin (1991)

Celsin foca no atendimento de famílias, mas sem abrir mão dos jovens. Foto: Thauany Melo/g1 Goiás.

O bar de 31 anos é gerido por Celson Batista e Silva, de 67 anos, a esposa dele e os quatro filhos. Segundo o filho dele, Fernando Machado e Silva, de 48 anos, o atendimento, assim como a gestão, é focado em famílias – sem esquecer dos outros públicos.



Com capacidade para 600 pessoas, o que chama a atenção no espaço amplo é a brinquedoteca, que conta com fraldário, pagers para controle de saída e até babás exclusivas para cada criança.

“Temos o serviço de babá exclusiva, fizemos investimento muito alto, mas a brinquedoteca se pagou em menos de um ano. Isso cresceu muito no nosso bar porque aqui sempre foi família, tradicional, de clientes mais velhos que vem toda semana. Mas atendemos do neto ao avô”.

Na parte da comida, Fernando destaca a mesa de frios, com mais de 150 tira-gostos, e os espetos.


“Meu pai foi um dos primeiros a vender espetinho no pratinho, que mais tarde virou a jantinha. Antigamente o pessoal comia espetinho na mão e a gente lançou esse espetinho com farinha mandioca tropeiro e vinagrete. Isso foi há 30 anos”.


Outra característica marcante do bar é o fato do som não ficar ligado. Segundo Fernando, assim que a casa enche, por volta das 19h, a música é desligada. “Nosso bar não coloca som. Com o burburinho das conversas, ninguém quer escutar música”, afirmou.


Para ele, o local agrega muito bem a essência da cidade e trabalha com a personalidade do público, por isso o local conta com uma grande área externa.

“A cara do goiano é a calçada. Goiano gosta de ser visto. Em outros lugares bares são fechados, aqui não funciona muito. Por isso temos uma calçada enorme. Lá é o primeiro lugar que enche”, contou.

Serviço

Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 17h à 0h. Sábado de 11h à 1h e domingo, de 11h às 18h.

Localização: Rua 22, lote 475, Setor Oeste

Telefone: (62) 3215-3043

Expediente

Edição Multiplataforma

Elisângela Nascimento, Millena Barbosa, Paula Resende e Pedro Nunes


Reportagem

Augusto Sobrinho, Danielle Oliveira, Giovanna Campos, Jamyle Amory, Kariny Bianca, Leicilane Tomazine, Michel Gomes, Thauany Melo, Ton Paulo, Vanessa Chaves, Victoria Lacerda, Vinícius Silva e Vitor Santana

Design

Marco Aurélio Soares


Audiovisual

Vitor Santana e Michel Gomes


Arte

Patrick Guimarães e Ricardo Machado


Imagens de apoio

Zé Washington e Diomício Gomes



Share by: