Goiânia 87 anos

Goiânia de minha memória

Nos seus 87 anos de existência, pedimos a pessoas que têm quase a mesma idade da capital para que revelassem uma cidade desconhecida da maioria: a de suas lembranças


Textos: Rogério Borges


A poeira que se levantava das ruas deu àquele tempo um certo tom sépia que combina bem com as lembranças guardadas há tantas décadas. Quem viu Goiânia em seus primórdios acostumou-se com os redemoinhos de terra que subiam ao céu, varrendo grandes extensões onde um dia estariam prédios e esquinas movimentadas, concreto e asfalto. Era a poeira que fazia uma certa menina fechar os olhos enquanto andava pelas ruas da nova cidade em sua bicicleta. Era a poeira que acompanhava o primeiro menino a nascer aqui em suas brincadeiras infantis nas imediações do poder. Era a poeira que um novo habitante do bairro de Campinas enfrentava e superava em suas “conquistas de território”.

Neste especial, fomos atrás do menino que aqui nasceu primeiro, da menina de bicicleta, do garoto que expandiu seus domínios para construir sua identidade. Todos eles têm mais de 80 anos de idade e viram esta capital crescer de uma maneira que não passava pela imaginação de uma infância e adolescência vividas na nova capital ainda bucólica, com águas limpas nas quais se podia nadar, pescar e lavar roupa. Todos eles criaram vínculos tão grandes com esta terra de ar seco no centro do Brasil que decidiram que aqui estariam até o fim, que aqui envelheceriam, que aqui abrigariam suas lembranças, nas mais diferentes fases de suas trajetórias. Assim fizeram e hoje eles podem contar. Podem contar porque testemunharam.

E os três testemunharam muita coisa. Vicente Arycan, o filho de um dos homens de confiança do fundador da cidade, Pedro Ludovico Teixeira, testemunhou seu caminho para a escola, que fazia a cavalo, transformar-se num grande pólo atacadista. Maria do Rosário Cassimiro testemunhou seus trajetos de menina serem tomados por trânsito intenso e as universidades que viu nascer entrarem na sua vida para fazerem dela uma pioneira. Horieste Gomes testemunhou os lugares de suas diversões ganharem outros contornos e o bairro de seu coração virar um formigueiro de gente, mudando para sempre paisagens que nunca mais poderão ser recuperadas. Nunca mais? Talvez não... Talvez haja uma maneira.

Essa maneira é não deixar que a lembrança desses espaços morra, revivendo o que acontecia em tais locais décadas atrás, quando Goiânia estava no frescor de seu nascimento e ainda não havia sucumbido totalmente ao futuro que lhe estava destinado. Então, vamos passear pela Praça Cívica ainda cheia de construções? Vamos visitar os bosques do Botafogo e dos Buritis, verdejantes e preservados? Vamos retornar a uma Campinas romântica, com casais desfilando pela Praça Joaquim Lúcio? Vamos nadar nas águas cristalinas do Anicuns, do Capim Puba, do Meia Ponte? Vamos subir as ladeiras ermas do Setor Universitário? Vamos viajar à Goiânia das lembranças, à Goiânia da memória de quem a ama desde o seu princípio? Vamos lá.

Vicente Arycan afirma ser o primeiro a vir ao mundo na nova capital, cidade que ele viu crescer num ritmo muito além do que o menino que andava a cavalo por suas ruas poderia imaginar
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O menino vindo de São Paulo fez do bairro de Campinas o seu parque de diversões, a sua paixão por futebol, a sua vida. E Horieste Gomes não deixa essas lembranças desaparecerem
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A menina da bicicleta

Goiânia viu a garota que viria a ser a primeira reitora de uma universidade federal no Brasil brincar por suas ruas empoeiradas. E Maria Cassimiro viu uma cidade transformar-se
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