Goiânia 89 anos: qual a expectativa e a realidade da capital para o futuro

Goiânia 89 anos: qual a expectativa e a realidade da capital para o futuro na visão de crianças, adultos e idosos?

Goianienses de todas as idades descrevem como acreditam que a cidade deverá ser daqui a alguns anos. 

Leicilane Tomazini e Vitor Santana, O Popular e G1 Goiás

Há 89 anos, se perguntassem como Goiânia seria no futuro, alguém acertaria? Será que algum morador da nova capital de Goiás imaginaria que a cidade planejada inicialmente para 50 mil pessoas teria 30 vezes mais habitantes? Ou que antes de completar seu primeiro centenário seria a cidade mais arborizada do Brasil?


É difícil dizermos o que os pioneiros de Goiânia imaginavam para o futuro, o fato é que a paisagem da cidade se transformou, e vem se transformando, ao longo desses anos.

O g1 Goiás e o O Popular publicam uma série de reportagens especiais sobre os 89 anos de Goiânia.



Viaduto João Alves de Queiroz: cidade futurista pensada pela estudante Nicole Reis (Crédito: Arte/TV Anhanguera)

Plano diretor

Nos próximos 89 anos, é provável que as mudanças que ocorrerão sejam bem diferentes das que observamos no passado, tanto pelo avanço tecnológico, quanto pela implementação de um plano com as regras sobre a ocupação da cidade e uso dos seus recursos.


O Plano Diretor é a principal lei de uma cidade, lei essa que organiza onde as pessoas vão morar, como elas vão morar, por onde deverão ir, como e para onde a cidade vai crescer e até mesmo o que preservar. É ele também que determina onde os prédios podem ser construídos, o tamanho deles e quantos apartamentos podem ter. Em outras palavras, é o Plano Diretor que define o tamanho da cidade e onde estarão os novos bairros.


No Plano Diretor estão traçadas as regras de uma cidade para os próximos dez anos. Ele decide ainda quais serão as principais avenidas e as políticas de transporte. Define também se no bairro terá só casas ou se atividades econômicas também farão parte do contexto.


Antes do Plano Diretor, o poder público tomava as decisões de forma deliberada. Além disso, na maioria das vezes, não havia uma continuidade das ações, já que a cada mandato novas decisões eram tomadas.

Viaduto João Alves de Queiroz - Arquiteto e urbanista que participou da elaboração do Plano Direto diz que trânsito de Goiânia não foi pensado para pedestres

(Foto: José Washington/TV Anhanguera)

A Cleide de Souza, de 48 anos, lembra que a “Goiânia do passado” tinha um trânsito melhor. “Como as pessoas adquiriram carros, deu uma congestionada e o trânsito piorou um pouquinho”, diz. Para a técnica de enfermagem, não houve um planejamento da prefeitura para comportar a quantidade de veículos, que aumentou com o crescimento da cidade.


Por outro lado, Cleide afirma que o lazer na capital está melhor do que durante a sua infância. “Nesse sentido melhorou bastante, tem os parques floridos, mais organizadinhos, com brinquedos para as crianças e academias ao ar livre”.


A diarista Maria de Lourdes Fagundes também se lembra da falta de opções de lazer no passado, e como isso melhorou com o passar dos anos. No entanto, ela tem uma visão menos otimista do futuro. “Vai ter mais prédios, porque (mais) área verde é impossível, o povo acaba com tudo”.


Apesar disso, Maria tem o desejo de que as coisas fossem diferentes do que ela imagina: “Mais áreas verdes e menos carros”.

Parque Flamboyant - Goiânia foi eleita a cidade mais arborizada do país (Foto: José Washington/TV Anhanguera)

Quem elabora e quem vota o Plano Diretor?

A princípio, o Paço Municipal estabelece comitês internos de servidores, cada um na sua área, para trabalhar uma releitura do plano atual e, a partir disso, apontar mudanças para o plano seguinte. Portanto, o primeiro passo é um diagnóstico do que aconteceu na cidade nos últimos dez anos: o que funcionou, o que não funcionou e o que pode ser melhorado.


O próximo passo é encaminhar as propostas de alterações no plano para a Câmara Municipal. Os vereadores, por sua vez, fazem suas análises, dão uma nova formatação à minuta e devolvem para o Paço Municipal. Após isso, o prefeito pode sancionar o plano, que tem até seis meses para entrar em vigor.

Demora

Apesar de aprovado, o novo Plano Diretor de Goiânia ainda não está valendo, conforme explicou o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves. Segundo ele, “Goiânia está parada”, já que o município não emite nenhum uso do solo, alvará de construção ou de funcionamento.


Paulo analisa que o novo Plano Diretor veio trazendo grandes melhorias para a cidade, principalmente no que diz respeito ao adensamento, que, de forma resumida, significa colocar mais moradores por metro quadrado. De acordo com o especialista, o plano vigente desde 2007 previa o adensamento ao redor dos eixos do transporte público na capital, entretanto, não havia limites para isso.

"Uma quadra que tinha 30 casas passa a ter 3 mil famílias, sem a menor regra de controle, a não ser o tamanho do edifício”, ponderou.

Avenida de Goiânia - Plano Diretor aprovado em 2007 não previa limites de adensamento (Foto: José Washington/TV Anhanguera)

O plano diretor atual trouxe um limite de construção para o mercado imobiliário. “Hoje tem uma regra estabelecida, que é o número de vezes que você pode ampliar o seu terreno. Ou seja, em um terreno de 1.000 m² pode se fazer 6 mil metros de apartamento. Não interessa se são 6 mil apartamentos pequenos ou 60 grandes”, ressaltou o arquiteto.


Para Paulo, essa nova determinação trouxe democracia à população, já que as famílias pequenas, casais sem filhos e jovens que moram sozinhos não precisam mais ter apartamentos grandes onde decidirem morar.


Outro problema do Plano Diretor que vigorou nos últimos anos foi o direcionamento do mercado imobiliário. As diretrizes da prefeitura não foram seguidas e o setor procurou outros locais adensáveis.

“O mercado imobiliário vai onde tem um metro quadrado mais vantajoso para se trabalhar, onde tem parques, praças, e não onde tem transporte público. Isso promoveu uma falta de democracia, porque o mercado imobiliário que vai para uma área melhor não está convidando os pobres. São áreas para quem tem um poder aquisitivo maior”, pontuou.

Para especialista, o mercado imobiliário não vai aonde a prefeitura quer que ele vá. Ele vai aonde tem um metro quadrado mais vantajoso (Foto: José Washington/TV Anhanguera)


Descentralização

Goiânia vem passando por um processo de inversão em seu desenvolvimento. A respeito disso, o arquiteto acredita que a cidade não sofrerá uma expansão nos próximos anos. Para ele, a tendência é que a capital entre numa era de microcentralidades, diferente do modelo radial, em que existe o centro e um círculo com menos moradores, que vai diminuindo até chegar nas periferias.


De acordo com essa nova tendência, haverá, dentro de uma macrozona, várias centralidades. O conceito, também chamado de “cidade em 15 minutos”, prevê que a microcentralidade não dependa de um bairro como polo de economia.

“Você mora em um edifício, desce, vai a pé na padaria, num pet shop, dá uma volta no quarteirão já tem a lavanderia, e ali você resolve sua vida”, afirma Alves.

Transformações aceleradas

O novo Plano Diretor, conforme foi citado, tem como objetivo preencher certas lacunas, corrigir falhas e, consequentemente, melhorar a vida das pessoas. Contudo, um ponto muito importante deve ser observado: a volatilidade.


Conforme explicou o especialista, a cidade está mudando muito rápido, e, por isso, seu plano deve ser flexível.  “Hoje, se alguém resolve inventar um aplicativo de carona, vai mudar completamente a forma como a cidade se locomove, por exemplo”.


Além disso, a tendência é que as transformações aconteçam de forma cada vez mais acelerada, gerando o risco de tornar o Plano Diretor obsoleto.

Ônibus em Goiânia (Foto: Divulgação/HP Transportes)

Mobilidade

O plano de mobilidade em Goiânia dá ênfase ao transporte coletivo. Paulo explica, contudo, que a solução encontrada não foi colocar mais ônibus nas ruas. “Se coloca mais ônibus e alarga as vias, os carros também vão para lá e o trânsito vai continuar parado, então tem que dar velocidade de locomoção. O plano diretor está enfatizando isso: o transporte com rapidez”.


Outro ponto observado por Alves é que o trânsito de Goiânia não foi pensado para pedestres.

“O que vimos nos últimos anos foram obras grandiosas para carros. A cidade não pode ser pensada para o carro e o pedestre ser jogado para escanteio. Para ele só veio a regra de criar calçadas com piso tátil, isso é muito pouco”.

Essa saturação de carros nas ruas de Goiânia também é vista como um problema pelo Davi, de 7 anos. Mesmo com a pouca idade, ele já tem notado que é preciso encontrar uma alternativa para a mobilidade urbana. O garoto acredita que como não há mais espaço nas ruas para os veículos, deveríamos usar o espaço aéreo. Como? Com drones!

“No céu tem muito espaço, aí aqui na terra não tem muito. E também a gente não pode ir para a calçada, mas no céu não tem isso”, explica Davi sobre a ideia de usar drones para se locomover.

Davi acredita que no futuro os drones farão parte do transporte urbano (Crédito: Arte/TV Anhanguera)

Esperança

Não é fácil atender às expectativas da população e, ao mesmo tempo, criar e executar um plano realista e que seja viável. Mas, o desejo da maioria das pessoas é que Goiânia continue se desenvolvendo, mas sem deixar de lado o cuidado com o meio ambiente. Esse também é o pensamento do eletricista Domingos da Fonseca, de 58 anos. Ele vive em Goiânia desde que nasceu e tem acompanhado todas as transformações da capital.


“Eu tive a minha infância brincando aqui, no Setor Vila Nova, nesses bairros mais próximos. Estudei em um colégio que fica atrás do bosque e brinquei muito nesse bosque. Tínhamos uma lagoa, que hoje é uma rede de esgoto”, se recorda.

“Sobre o futuro? A cidade do futuro que eu imagino seria uma cidade menos poluída, que continue com as árvores, porque toda vida nossa cidade foi bem arborizada. E o que nós podemos fazer é cuidar, porque a gente almeja um futuro melhor para essas crianças”, espera o eletricista.


Expediente

Edição Multiplataforma

Elisângela Nascimento, Millena Barbosa, Paula Resende e Pedro Nunes


Reportagem

Augusto Sobrinho, Danielle Oliveira, Giovanna Campos, Jamyle Amory, Kariny Bianca, Leicilane Tomazine, Michel Gomes, Thauany Melo, Ton Paulo, Vanessa Chaves, Victoria Lacerda, Vinícius Silva e Vitor Santana

Design

Marco Aurélio Soares


Audiovisual

Vitor Santana e Michel Gomes


Arte

Patrick Guimarães e Ricardo Machado


Imagens de apoio

Zé Washington e Diomício Gomes



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